quarta-feira, março 31
terça-feira, março 30
domingo, março 28
José Sá Fernandes e o administrador da Braga-Parques
Ontem à noite,no Eixo do Mal da SIC Notícias, Daniel Oliveira acaba o programa relatando um facto inacreditável da nossa justiça, minuto 45 do video.
sábado, março 27
Hole in one
Os 131 metros do 16 do Aroeira 1 tornam o par fácil e nem o longo bunker, que defende o green pela direita, é obstáculo para os que vêm vergados pelos disparates anteriores. Talvez por isso, o swing foi fácil e solto. A pancada alta e tensa acabou num pequeno draw que a retirou do bunker. O impacto no green fê-la saltar para a esquerda e travar o suficiente para correr docemente para o buraco, uma delícia.
quarta-feira, março 24
Andreas Versalius
No século XVI, Andreas Vesalius publicou um livro De Humani Corporis Fábrica com as suas observações e com desenhos de grande rigor e beleza. Desde Galeno, médico grego do século II, muito pouco havia sido descoberto sobre anatomia e fisiologia desde a Antiguidade. A falta de aulas práticas de anatomia na Universidade de Paris levou Versalius, assim como Miguel Ângelo e Leonardo da Vinci, a frequentar cemitérios em busca de ossadas de criminosos executados e vítimas de pragas. O renascer da arte clássica passava pelo estudo anatómico, pelos cânones, pela investigação. Seguiam a máxima que só desenhamos bem o que conhecemos profundamente. É no Renascimento que o desenho se valoriza não só como um passo fundamental na metodologia de trabalho de qualquer artista, mas também como produto final. Nas últimas décadas, desvalorizou-se o seu ensino. Nos currículos escolares, a disciplina de Desenho só aparece no Ensino Secundário, o que é manifestamente tarde. O desenho estrutura o olhar, valoriza o observado, esclarece, transgride - ensina a ver. Desde a ilustração científica às paginas de jornais, o desenho percorre todas as áreas do conhecimento. Não é por acaso que os melhores jornais, revistas, diversas publicações, fazem uso regular do desenho.
Noite de astronomia
Foi sempre assim que me senti quando o Paulo Coimbra, o orador da noite de astronomia em Chaves, me convencia a observar os vários pontos luminosos que ele identificava com grande entusiasmo. Falava-me de coisas que eu não percebia e ainda não percebo. A escala era outra. Chaves fica longe, eu sei!, mas alguém me consegue explicar o que significa estar a uma distância de não sei quantos anos-luz?
sábado, março 20
Heróis
O umbiguista Paulo Guinote passou pelo alfarrabista e descobriu as revistas Falcão da minha infância. Preciosidades que terei lá em casa. Estas pequenas revistas eram lidas vezes sem conta e passavam de mão em mão até se desfazerem. Nas longas tardes de Verão, abrigados pelas sombras dos magníficos parques de Vidago, vestíamos a pele de cada um deles. Os meus favoritos eram o Major Alvega, Fantasma e Kit Karson. Deliciava-me também, como poderia esquecer, com o Mandrake e Tarzan. Nesta época, o Tarzan dos quadradinhos tinha no cinema o inesquecível e insubstituível Johnny Weissemuller.
O vigor natural da terra
«Chego agora aos prazeres daqueles que se dedicam à agricultura, nos quais encontro deleite maravilhoso. (...) Têm eles uma conta a ajustar com a terra, a qual nunca recusa o seu poder e nunca retorna desinteressadamente o que recebeu: umas vezes menos, mas, na maior parte, muito e com juros. E, todavia, aquilo que aprecio mais não é apenas o produto, mas ainda o próprio vigor natural da terra - quando o seu solo amolecido e revolvido recebe a semente que lhe é lançada, retém-na primeiro, abrigando-a da luz, depois de a aquecer com o seu calor, fá-la brotar pela pressão, daí saindo uma erva verdejante que, apoiando-se nas ramificações da raíz, cresce pouco a pouco, e erguendo-se sobre um nó intricado de ramificações fecha-se, quase como um púbere, num invólucro e, ao sair para fora, produz um fruto em forma de espiga munido de espinhos para se defender das bicadas dos pequenos pássaros.»
In Da Velhice de Cícero
quarta-feira, março 17
Nat King Cole
É curioso como certas músicas nos remetem para certos lugares, para determinadas pessoas.
Cartas de Vidago, A escola padece de falta de autoridade
Ilustração de Ira Robbins
A nobre e lustrosa fachada da “Escola para todos” alberga muitos rostos baços e tristonhos não só de alunos mas também de professores que se sentem impotentes para solucionar os graves problemas que surgem cada vez com mais frequência nas escolas. Estas são terreno fértil para a sua proliferação, mas a sua verdadeira origem vem de fora. A escola tem um papel primordial na identificação e prevenção dessas autênticas pragas sociais, mas não pode estar sozinha na sua solução. Não pode ser vista como uma panaceia para todos os males, principalmente porque não pode contar com uma arma que tem vindo a perder desde há alguns anos: a autoridade. Alguma autoridade que a escola tem recuperado, é construída com muita abnegação, imaginação e paciência pelos docentes. É uma autoridade conquistada a poder de um relacionamento ponderado, comedido e multifacetado que os docentes têm com os seus alunos, de forma que estes encontrem algum carisma em relação aos seus professores. Não é uma autoridade conferida como quem entrega um uniforme, um livro de contra ordenações, um bastão e outras armas persuasoras. Esta, é muito mais simples de aplicar e por vezes dá melhores e mais rápidos resultados. A formação da personalidade dos nossos alunos é mais compatível com a primeira forma de autoridade, por isso é que se tem enveredado por ela, mas muitas vezes também é necessário uma força, um poder a que os alunos temam e os coíba de praticar certos actos ou atitudes. É esta força que muitas vezes parece enfraquecida e que é necessário recuperar.
A escola tem que ser um local onde se fomente o respeito, a organização, o convívio saudável, um local de construção e desenvolvimento de personalidades responsáveis, tolerantes e cooperantes. Para isso é necessária a implementação de actividades diversificadas que envolvam os alunos, propiciando-lhes oportunidades de demonstração das suas apetências. É necessário haver regras e a suficiente autoridade para as fazer cumprir. É necessária uma forte, sólida e constante sintonia entre a escola e a família seguindo um caminho de actuação convergente. Os meios de comunicação, o círculo de amigos e as pressões publicitárias exercem muitas vezes uma influência adversa que dificulta o caminho que a escola e a família pretendem seguir. Quando estas duas instituições têm uma estrutura sólida, conseguem minimizar aquelas adversidades ou até convertê-las em ensinamentos positivos. Contudo há condicionantes económicas, sociais, cívicas, culturais e educacionais que fragilizam a estrutura de muitas famílias, transformando-se num elo fraco em todo o processo, muitas vezes não por culpa delas próprias mas sim por razões relacionadas com a instabilidade provocada pelo imparável ritmo e repentinas alterações das sociedades modernas.
José Manuel Carvalho
A nobre e lustrosa fachada da “Escola para todos” alberga muitos rostos baços e tristonhos não só de alunos mas também de professores que se sentem impotentes para solucionar os graves problemas que surgem cada vez com mais frequência nas escolas. Estas são terreno fértil para a sua proliferação, mas a sua verdadeira origem vem de fora. A escola tem um papel primordial na identificação e prevenção dessas autênticas pragas sociais, mas não pode estar sozinha na sua solução. Não pode ser vista como uma panaceia para todos os males, principalmente porque não pode contar com uma arma que tem vindo a perder desde há alguns anos: a autoridade. Alguma autoridade que a escola tem recuperado, é construída com muita abnegação, imaginação e paciência pelos docentes. É uma autoridade conquistada a poder de um relacionamento ponderado, comedido e multifacetado que os docentes têm com os seus alunos, de forma que estes encontrem algum carisma em relação aos seus professores. Não é uma autoridade conferida como quem entrega um uniforme, um livro de contra ordenações, um bastão e outras armas persuasoras. Esta, é muito mais simples de aplicar e por vezes dá melhores e mais rápidos resultados. A formação da personalidade dos nossos alunos é mais compatível com a primeira forma de autoridade, por isso é que se tem enveredado por ela, mas muitas vezes também é necessário uma força, um poder a que os alunos temam e os coíba de praticar certos actos ou atitudes. É esta força que muitas vezes parece enfraquecida e que é necessário recuperar.
A escola tem que ser um local onde se fomente o respeito, a organização, o convívio saudável, um local de construção e desenvolvimento de personalidades responsáveis, tolerantes e cooperantes. Para isso é necessária a implementação de actividades diversificadas que envolvam os alunos, propiciando-lhes oportunidades de demonstração das suas apetências. É necessário haver regras e a suficiente autoridade para as fazer cumprir. É necessária uma forte, sólida e constante sintonia entre a escola e a família seguindo um caminho de actuação convergente. Os meios de comunicação, o círculo de amigos e as pressões publicitárias exercem muitas vezes uma influência adversa que dificulta o caminho que a escola e a família pretendem seguir. Quando estas duas instituições têm uma estrutura sólida, conseguem minimizar aquelas adversidades ou até convertê-las em ensinamentos positivos. Contudo há condicionantes económicas, sociais, cívicas, culturais e educacionais que fragilizam a estrutura de muitas famílias, transformando-se num elo fraco em todo o processo, muitas vezes não por culpa delas próprias mas sim por razões relacionadas com a instabilidade provocada pelo imparável ritmo e repentinas alterações das sociedades modernas.
José Manuel Carvalho
segunda-feira, março 15
Experimentalismos 3 - A Ponte
Kirchner, Painters of Die Brucke (1927)
Die Brücke – “A Ponte” -, foi a primeira vanguarda expressionista, fundada em Dresden, tendo como figura de relevo Ernst Kirchner. As suas pinturas compunham-se de cores violentas e figuras deformadas, numa pincelada vigorosa de execução espontânea e temperamental. Pretendeu expressar os sentimentos e traumas da alma humana com vigor, dramatismo, angústia e até violência, numa atitude de denúncia, de crítica e de contestação política e social, de um período ameaçado pela guerra.
Pretendendo integrar a vida na arte, os artistas da Brücke viveram em comunidade nos bairros operários, privilegiando a criação pura numa procura do “original” – do “eu”, da “ideia”, da “alma” da obra -, não como cópia da realidade mas como expressão autêntica de uma vivência interior.
Die Brücke – “A Ponte” -, foi a primeira vanguarda expressionista, fundada em Dresden, tendo como figura de relevo Ernst Kirchner. As suas pinturas compunham-se de cores violentas e figuras deformadas, numa pincelada vigorosa de execução espontânea e temperamental. Pretendeu expressar os sentimentos e traumas da alma humana com vigor, dramatismo, angústia e até violência, numa atitude de denúncia, de crítica e de contestação política e social, de um período ameaçado pela guerra.
Pretendendo integrar a vida na arte, os artistas da Brücke viveram em comunidade nos bairros operários, privilegiando a criação pura numa procura do “original” – do “eu”, da “ideia”, da “alma” da obra -, não como cópia da realidade mas como expressão autêntica de uma vivência interior.
sábado, março 13
Terrorismo
Fez seis anos. Na manhã de 11 de Março de 2004 explodiram dez bombas em diversos comboios de Madrid. Morreram 191 pessoas e milhares ficaram feridas. Numa altura em que se volta a falar da ETA e os meninos-bomba continuam a explodir pelo Médio Oriente são motivos suficientes para recordar estes actos ignóbeis e divulgar um poema de Wislawa Szymborska (Prémio Nobel da Literatura 1996). O TERRORISTA OBSERVA
A bomba no café vai explodir às treze e vinte.
São treze e dezasseis neste momento.
Há tempo ainda para entrar
e tempo para sair.
O terrorista já cruzou a rua.
A esta distância não corre perigo,
e que vista tem – é como no cinema:
Uma mulher de casaco amarelo acaba de entrar.
Sai um homem de óculos escuros.
Dois rapazes de calça de ganga conversam à porta.
Treze horas, dezassete minutos e quatro segundos.
O mais baixo tem sorte, senta-se na motorizada,
já o outro, entrou agora mesmo.
Treze horas dezassete minutos e quarenta segundos.
Aproxima-se uma rapariga, de fita verde no cabelo.
Mas um autocarro pára de súbito à sua frente.
Treze e dezoito.
A rapariga desapareceu.
Se foi estúpida e entrou, ou não,
sabê-lo-emos quando eles forem retirados.
Treze e dezanove.
Parece que não entra mais ninguém.
Mas há um tipo que sai, gordo, careca.
Esperem lá, ei-lo que procura qualquer coisa nos bolsos e
quando faltam dez segundos para as treze e vinte
regressa para ir buscar as suas velhas luvas.
São treze e vinte certas.
Como o tempo se alonga.
Vai ser a qualquer momento.
Ainda não.
Sim, é agora.
A bomba explode.
A bomba no café vai explodir às treze e vinte.
São treze e dezasseis neste momento.
Há tempo ainda para entrar
e tempo para sair.
O terrorista já cruzou a rua.
A esta distância não corre perigo,
e que vista tem – é como no cinema:
Uma mulher de casaco amarelo acaba de entrar.
Sai um homem de óculos escuros.
Dois rapazes de calça de ganga conversam à porta.
Treze horas, dezassete minutos e quatro segundos.
O mais baixo tem sorte, senta-se na motorizada,
já o outro, entrou agora mesmo.
Treze horas dezassete minutos e quarenta segundos.
Aproxima-se uma rapariga, de fita verde no cabelo.
Mas um autocarro pára de súbito à sua frente.
Treze e dezoito.
A rapariga desapareceu.
Se foi estúpida e entrou, ou não,
sabê-lo-emos quando eles forem retirados.
Treze e dezanove.
Parece que não entra mais ninguém.
Mas há um tipo que sai, gordo, careca.
Esperem lá, ei-lo que procura qualquer coisa nos bolsos e
quando faltam dez segundos para as treze e vinte
regressa para ir buscar as suas velhas luvas.
São treze e vinte certas.
Como o tempo se alonga.
Vai ser a qualquer momento.
Ainda não.
Sim, é agora.
A bomba explode.
sexta-feira, março 12
Cartas de Vidago, O Porco
La Boucherie-1980, Eduardo Luiz
O Porco
Ali se impunha o resultado de meses de esforço, preocupações e canseiras. Sim, porque dificilmente se acredita que toda aquela carne rosada seja de animais criados por um qualquer sistema automático de aspersão de farinhas duvidosas e além disso os seus criadores só têm a lucrar com a autenticidade dos seus produtos. Aquelas beiças e focinhos ali perfilados, prontos para deliciarem ávidos e gulosos paladares, deliciaram-se eles também certamente com tudo o que de melhor a terra oferece a quem bem a trata. Aqueles chispes, agora ali preceituosamente dependurados em cacho e prontos para uma boa feijoada, pisaram e esgravataram muito estrume genuíno, fonte reciclável de novas colheitas e genuínos produtos. Aqueles rabos, agora hirtos e salgados, foram outrora roscas inquietas que terão espanado muitos quilos residuais de digestões feitas depois do prazer de refeições autênticas. Aquelas cabeças com olhos que agora fixam o vazio, mas que já olharam muitas vezes com afecto para quem lhes lançava a abóbora, o cereal e a batata. Cabeças com orelhas agora prontas para enriquecer o deleitoso cozido à portuguesa ou misturar com salsa e cebola, mas que já foram receptoras de carinhosos chamamentos de quem lhes proporcionava a existência: “chua…chua…”, “reco…reco…”, ao que o bicho respondia com uma reacção pavloviana: “ronc…ronc…”, sabendo instintivamente que o pote esteve mais uma vez ao lume para lhe amolecer o grão e o tubérculo que iriam satisfazer o seu inconsolável e voraz apetite.
E assim se podia discorrer demoradamente numa relação entre a riqueza das partes do bicho e os gestos, trabalhos e canseiras que estiveram na origem da sua criação. Não nos esquecendo das meigas palmadas infligidas nas espáduas e nos quadris que agora ali estão transformados em pás e presuntos; dos ternos e despretenciosos afagos no lombo que agora está ali feito em salpicões; das cócegas na barriga, qual saboroso toucinho entremeado; dos carinhosos beliscões em todos os pedacinhos que agora ali estão ensaquitados para compensar e agradecer todas estas laboriosas acções. E, apesar dos estridentes berros e grunhidos de sofrimento e stress emitidos no pior momento de todo este relacionamento, arrisco-me a imaginar todas aquelas bocas risonhas dependuradas a “dizer”: “ronc… ronc…” – como que a agradecer aos seus tratadores a regalada vida que estes lhes proporcionaram.
Desta forma adquire um maior significado e acepção a velha e popular expressão “ser rico como um porco”. Rico não só porque passou uma vida de “lord” mas também porque o seu conteúdo pode ser transformado em riqueza, necessária ao desenvolvimento desta região, aparentemente recôndita e inóspita, mas com potenciais evidenciados em certames organizados cada vez com maior rigor, empenho, motivação e exigências de qualidade e higiene que contribuem muito para o prestígio do acontecimento, dos promotores e dos participantes.
Porém, esses potenciais não são somente naturais como os de muitas regiões e países em que basta escavar ou furar o solo e subsolo para lhe sugar as entranhas cuja milionária rentabilização não carece da publicidade nem do esforço necessários à rentabilização dos recursos de regiões menos abençoadas. Para usufruir das qualidades camufladas destas paragens é necessário muito mais: trabalho, dedicação, perseverança, abnegação e muito esforço. E, só apelando a estas qualidades humanas tem sido possível manter e sustentar o essencial de um desenvolvimento socioeconómico que poderia aumentar devido às estruturas viárias que vão sendo criadas mas que paradoxal e ironicamente poderão ter um efeito perverso: em vez de servirem para trazer desenvolvimento poderá correr-se o risco de o escoar para onde já o há em excesso.
Que não seja só o porco e seus derivados a compensar e a agraciar os seus criadores e a servir de atracção para os milhares de bem-vindos visitantes. Além disso são necessários outros incentivos para ajudar a fixar a população. É necessária a rentabilização de recursos humanos comprovadamente existentes para serem usados no desenvolvimento desta região evitando que eles vão desenvolver outras regiões ou outros países. É necessária a confluência e o estímulo de interesses, esforços e capacidades para aumentar o poder e o bom funcionamento de sociedades, associações e empresas no sentido de atraírem massa humana, imprescindível ao combate contra a inexorável condenação que é o êxodo, o esvaziamento humano e a irreversível desertificação.
José Manuel Alves Carvalho
O Porco
Ali se impunha o resultado de meses de esforço, preocupações e canseiras. Sim, porque dificilmente se acredita que toda aquela carne rosada seja de animais criados por um qualquer sistema automático de aspersão de farinhas duvidosas e além disso os seus criadores só têm a lucrar com a autenticidade dos seus produtos. Aquelas beiças e focinhos ali perfilados, prontos para deliciarem ávidos e gulosos paladares, deliciaram-se eles também certamente com tudo o que de melhor a terra oferece a quem bem a trata. Aqueles chispes, agora ali preceituosamente dependurados em cacho e prontos para uma boa feijoada, pisaram e esgravataram muito estrume genuíno, fonte reciclável de novas colheitas e genuínos produtos. Aqueles rabos, agora hirtos e salgados, foram outrora roscas inquietas que terão espanado muitos quilos residuais de digestões feitas depois do prazer de refeições autênticas. Aquelas cabeças com olhos que agora fixam o vazio, mas que já olharam muitas vezes com afecto para quem lhes lançava a abóbora, o cereal e a batata. Cabeças com orelhas agora prontas para enriquecer o deleitoso cozido à portuguesa ou misturar com salsa e cebola, mas que já foram receptoras de carinhosos chamamentos de quem lhes proporcionava a existência: “chua…chua…”, “reco…reco…”, ao que o bicho respondia com uma reacção pavloviana: “ronc…ronc…”, sabendo instintivamente que o pote esteve mais uma vez ao lume para lhe amolecer o grão e o tubérculo que iriam satisfazer o seu inconsolável e voraz apetite.
E assim se podia discorrer demoradamente numa relação entre a riqueza das partes do bicho e os gestos, trabalhos e canseiras que estiveram na origem da sua criação. Não nos esquecendo das meigas palmadas infligidas nas espáduas e nos quadris que agora ali estão transformados em pás e presuntos; dos ternos e despretenciosos afagos no lombo que agora está ali feito em salpicões; das cócegas na barriga, qual saboroso toucinho entremeado; dos carinhosos beliscões em todos os pedacinhos que agora ali estão ensaquitados para compensar e agradecer todas estas laboriosas acções. E, apesar dos estridentes berros e grunhidos de sofrimento e stress emitidos no pior momento de todo este relacionamento, arrisco-me a imaginar todas aquelas bocas risonhas dependuradas a “dizer”: “ronc… ronc…” – como que a agradecer aos seus tratadores a regalada vida que estes lhes proporcionaram.
Desta forma adquire um maior significado e acepção a velha e popular expressão “ser rico como um porco”. Rico não só porque passou uma vida de “lord” mas também porque o seu conteúdo pode ser transformado em riqueza, necessária ao desenvolvimento desta região, aparentemente recôndita e inóspita, mas com potenciais evidenciados em certames organizados cada vez com maior rigor, empenho, motivação e exigências de qualidade e higiene que contribuem muito para o prestígio do acontecimento, dos promotores e dos participantes.
Porém, esses potenciais não são somente naturais como os de muitas regiões e países em que basta escavar ou furar o solo e subsolo para lhe sugar as entranhas cuja milionária rentabilização não carece da publicidade nem do esforço necessários à rentabilização dos recursos de regiões menos abençoadas. Para usufruir das qualidades camufladas destas paragens é necessário muito mais: trabalho, dedicação, perseverança, abnegação e muito esforço. E, só apelando a estas qualidades humanas tem sido possível manter e sustentar o essencial de um desenvolvimento socioeconómico que poderia aumentar devido às estruturas viárias que vão sendo criadas mas que paradoxal e ironicamente poderão ter um efeito perverso: em vez de servirem para trazer desenvolvimento poderá correr-se o risco de o escoar para onde já o há em excesso.
Que não seja só o porco e seus derivados a compensar e a agraciar os seus criadores e a servir de atracção para os milhares de bem-vindos visitantes. Além disso são necessários outros incentivos para ajudar a fixar a população. É necessária a rentabilização de recursos humanos comprovadamente existentes para serem usados no desenvolvimento desta região evitando que eles vão desenvolver outras regiões ou outros países. É necessária a confluência e o estímulo de interesses, esforços e capacidades para aumentar o poder e o bom funcionamento de sociedades, associações e empresas no sentido de atraírem massa humana, imprescindível ao combate contra a inexorável condenação que é o êxodo, o esvaziamento humano e a irreversível desertificação.
José Manuel Alves Carvalho
quarta-feira, março 10
Experimentalismos 2 - Der Blaue Reiter
Wassily Kandinsky's Composition VII, 1913
«Se desde hoje nos empenhássemos em cortar todas as ligações à natureza, numa separação total sem retorno possível, e nos limitássemos à exclusiva combinação da cor pura com uma forma inventada livremente, as obras que daí resultassem seriam apenas ornamentais e geométricas, muito pouco diferentes de uma gravata ou de um tapete.(...)Nós ainda não distinguimos um estado de avanço na pintura que nos permita impressionar-nos profundamente com uma combinação de formas e de cores totalmente emancipadas.» Wassily Kandinsky, Do Espiritual na Arte.
«Se desde hoje nos empenhássemos em cortar todas as ligações à natureza, numa separação total sem retorno possível, e nos limitássemos à exclusiva combinação da cor pura com uma forma inventada livremente, as obras que daí resultassem seriam apenas ornamentais e geométricas, muito pouco diferentes de uma gravata ou de um tapete.(...)Nós ainda não distinguimos um estado de avanço na pintura que nos permita impressionar-nos profundamente com uma combinação de formas e de cores totalmente emancipadas.» Wassily Kandinsky, Do Espiritual na Arte.
terça-feira, março 9
Experimentalismos 1 - Os Fauves
Matisse, Decorative Figure on an Ornamental Ground-1925 /1926
Como todas as vanguardas,os fauves estão contra toda a teoria da arte. Pretendem transmitir ao espectador emoções estéticas através da exaltação das cores em tons fortes e contrastadas. A cor deixa de se referir ao real para adquirir um valor próprio na composição. O tratamento do espaço é mais intuitivo e livre. As formas perdem realismo e tridimensionalidade. Os temas não passam de pretextos para a construção plástica das obras.
Como todas as vanguardas,os fauves estão contra toda a teoria da arte. Pretendem transmitir ao espectador emoções estéticas através da exaltação das cores em tons fortes e contrastadas. A cor deixa de se referir ao real para adquirir um valor próprio na composição. O tratamento do espaço é mais intuitivo e livre. As formas perdem realismo e tridimensionalidade. Os temas não passam de pretextos para a construção plástica das obras.
segunda-feira, março 8
domingo, março 7
sábado, março 6
Belas e arrojadas
Ver mais aqui. Provavelmente só eu não conhecia este site. Obrigado Luis Martins (professor, arquitecto, mestre em relógios e ferros de golf, amante do detalhe)
quinta-feira, março 4
terça-feira, março 2
CHILE
«Como pódem vivamente descrever-se as ancias, e affliçoens, que lastimosamente, cada individuo sentia em si próprio? Como podem pintar-se os suspiros, e agonias de tantos, que entre as ruinas esperavaõ dar por instantes os ultimos alentos? Como pódem? Eu confesso que he quasi impossivel. Espectaculo taõ lastimoso, objecto taõ infausto, horror taõ formidavel naõ se explica, nem descreve, nem se pinta, só se sente.» diz Trovão de Sousa que viveu o terramoto de Lisboa em 1755.
in O Pequeno Livro Do Grande Terramoto, de Rui Tavares
segunda-feira, março 1
Educação dos pais limita êxito dos filhos
Graficamente as primeiras páginas do jornal i merecem os maiores elogios.
Neste caso, centro-me na notícia central da edição de hoje que sintetiza de uma forma clara o problema da educação em Portugal. «Educação dos pais limita êxito dos filhos.» Como professor, só vejo uma solução a curto prazo para este problema: responsabilizar os pais pelo insucesso injustificado dos filhos. Como? Através de penalizações monetárias: retirando parte ou a totalidade dos subsídios, aumentando a carga fiscal, etc, etc. Como podemos pedir aos contribuintes que paguem ano após ano a incúria, o desleixo e a irresponsabilidade de alguns?
AB
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