quarta-feira, junho 30

Má educação


Eduardo foi claro à pergunta sobre a coesão defensiva portuguesa: quando se aposta tanto na estrutura defensiva a minha situação é mais fácil, mas, obviamente, perde-se a capacidade ofensiva. A origem da irritação de Ronaldo vem daqui, do labirinto intransponível de defesas costa-marfinenses, brasileiros e espanhóis para o qual foi lançado. A má educação e a aparente falta de solidariedade de Ronaldo e Deco, os mais penalizados pelo futebol ultra defensivo, não são mais graves do que o comportamento do treinador nacional. As atitudes do sr. Carlos têm sido absurdas e provocatórias: quem prescindiu de dois defesas direitos a favor de um defesa central? Que sinal deu para o balneário quando deixou M. Veloso no banco e incluiu R. Amorim, repescado à última hora, logo no primeiro jogo e para a posição do primeiro? Quem puniu Deco desta maneira tão cínica? Quem invocou cansaço de um jogador quando ele dava mostras de uma frescura invejável? Quem em final de festa não assumiu a fraca prestação do futebol luso e o colapso da sua estratégia, que nos remete para o futebol tristonho e medíocre dos anos setenta?

sexta-feira, junho 25

Os treinadores

A tarefa do treinador português para formar uma selecção de qualidade não é fácil. O país é pequeno e os jogadores de excepção são muito poucos: Ronaldo, Pepe, Bruno Alves, Coentrão, Bosingwa e Rui Patrício. Repito, Rui Patrício. Habitualmente, a escolha do onze português é consensual. As tácticas, tal como a equipa e em função desta limitação, não podem oscilar muito.
Cada vez mais, o protagonismo dos treinadores, e nestes tempos tem sido muito evidente, faz com que os jogadores de futebol apareçam amarrados a tácticas e a teorias que lhes retiram a espontaneidade e a criatividade, fundamentais para um bom jogo de futebol. Exemplos: a equipa de Portugal do sr. Carlos e o Brasil do sr. Dunga. Este, ao contrário do nosso, pôde construir uma equipa a partir de um universo imenso de jogadores fabulosos. Só os treinadores brasileiros têm este privilégio. Escolheu-os de acordo com uma ideia de futebol. Na ânsia de protagonismo, escolheu o modelo europeu, mais pragmático e eficaz, mas que ele desconhece e, sobretudo, não sente, e prescinde do melhor futebol do mundo – o seu, o brasileiro.
Cara... perdão. Caro Sr. Dunga, no Brasil de Garrincha e Pelé, de Romário e Ronaldinho, a recepção e o passe não precisavam de adjectivos; bola na bancada, motivo para sair do escrete; faltas?, perda de tempo e puxão de orelhas; jogar para trás, uma facada na história.

terça-feira, junho 22

Domenico Ghirlandaio

Em 1486 Giovanna degli Albizzi, nascida em 1468 numa das famílias mais importantes da cidade, contrai matrimónio com Lorenzo, outro jovem nobre da localidade, da família Tornabuoni e aparentado com os Médici. O enlace se celebra, augurando uma vida cheia de riqueza e de felicidade que se veria prematuramente interrompida com a morte de Giovanna aos dezanove anos, quando do nascimento do seu segundo filho. O jovem viúvo encarrega a um dos grandes mestres do momento e amigo da sua família, Domenico Ghirlandaio, um retrato que lhe permitia recordar e honrar para sempre a memória da sua esposa e que reflectiria não só a sua beleza exterior como também o interior: "ARS VTINAM MORES / ANIMVMQVE EFFINGERE / POSSES PVLCHRIOR IN TER / RIS NVLLA TABELLA FORET"; "Oxalá pudera a arte reproduzir o carácter e o espírito! Em toda a terra não se encontrará um quadro mais formoso". Assim reza o escrito que Ghirlandaio pintou no próprio retrato que alude, em primeiro lugar, às virtudes que possuía Giovanna durante a sua vida, que apenas se podem plasmar em imagens e, em segundo lugar, realça a arte da pintura, algo assim como “vejam do que é capaz a pintura”.
Na Fundação Calouste Gulbenkian existe também um belo retrato de uma jovem de Domenico Ghirlandaio.

BP

sábado, junho 19

O ano da morte de Ricardo Reis

"... ela não resistiu mais, não poderia, ainda que o impusessem as conveniências, porque este momento é um dos melhores da sua vida, pôr a água a correr, despir-se, entrar devagarinho na tina, sentir os membros lassos no conforto sensual do banho, usar aquele sabonete e aquela esponja, esfregar todo o corpo, as pernas, as coxas, os braços, o ventre, os seios, e saber que para lá daquela porta a espera o homem, que estará ele a fazer, o que pensa adivinho, se aqui entrasse, se viesse ver-me, olhar-me, e eu nua como estou, que vergonha, será então de vergonha que o coração bate tão depressa, ou de ansiedade, agora sai da água,todo o corpo é belo quando a água sai a escorrer, isto pensa Ricardo Reis que abriu a porta, Lídia está nua, tapou com as mãos o peito e o sexo, diz, Não olhe para mim, é a primeira vez que assim está diante dele, Vá-se embora, deixe-me vestir, e di-lo em voz baixa, ansiosa, mas ele sorri, um tanto de ternura, um tanto de desejo, um tanto de malícia, e diz-lhe, Não te vistas, enxuga-te só, oferece-lhe a grande toalha aberta, envolve-lhe o corpo, depois sai, vai para o quarto e despe-se, a cama foi feita de lavado, os lençois cheiram a novo, então Lídia entra, segura ainda a toalha à sua frente, com ela se esconde, não delgado cendal, mas deixa-a cair ao chão quando se aproxima da cama, enfim aparece corajosamente nua, hoje é dia de não ter frio, dentro e fora todo o seu corpo arde, e é Ricardo Reis quem treme ..." (p.255)
In O Ano da Morte de Ricardo Reis de José Saramago

quarta-feira, junho 16

História da Cultura e das Artes


O trabalho destes dois anos, uma boa noite de sono e um sorriso nos lábios são suficientes para o exame. Lá estarei.

terça-feira, junho 15

O sr. Carlos


Quando foi substituido, Deco dirigiu-se de imediato aos balneários, sem passar por Carlos Queiroz, "treinador" de Portugal. Mas nem o banho o fez serenar. Em entrevista no final do encontro, Deco foi muito claro: Carlos Queiroz não faz a mínima ideia do que é futebol. Nem sabe nem nunca soube, digo eu. O sr. Carlos é chato, previsível e ignorante. Disse o Sr. Carlos, "Aqui não se trata de jogar bem futebol. O que interessa é ficar entre os primeiros porque senão vamos para casa". Então, trata-se de quê?

Em poucos jogos, o treinador nacional destruirá toda a reputação conseguida ao longo dos últimos anos. Portugal nunca ganhou nada, é verdade, mas praticou um futebol de primeiríssima qualidade. E isso é realmente o mais importante.

domingo, junho 13

Os Brasileiros


A ternura dos brincalhões brasileiros, a doçura do comentador, a perspicácia do operador de câmara.

O futebol canarinho espelha tudo isso.

sábado, junho 12

Nina Simone em Montreux

No final de 70 e década de 80, estavamos muito atentos às gravações do Festival de Jazz de Montreux. Os grandes músicos de jazz, mas não só, passavam pela cidade suíça e as suas perfomances eram únicas e o seu registo muito pretendido. Recordo-me de alguns brasileiros - Flora Purim e Elis Regina, mas também de Ella Fitzgerald e Nina Simone. Dez minutos de Nina.

quarta-feira, junho 9

Terceira III, Vitorino Nemésio, O Mar

"Vejamos agora o mar. Chamar suave e bela a uma coisa destas, chata, mexida, com bocados brancos metidos no meio do cinzento! Gostar de água estendida como se fosse um solo, mas sem árvores, a não ser a árvore seca de um iate em calmaria… A verdade é que só amo o mar rebentado e colérico, principalmente o das praias e dos recifes: Detesto cordialmente este mar enrolado, como massa a folhar pelo pasteleiro de bordo, esta coisa estanhada e estólida como um olhar sem pálpebra, que não tem nada para olhar…"