segunda-feira, maio 31

Ainda nesta linha da "solidariedade" europeia

O que é um americano? - pergunta Grace Abbot (1878-1939), dando-nos uma resposta para a idade moderna. "Somos muitas nacionalidades espalhadas sobre um continente, com todas as diferenças e todo o interesse que nos oferece o clima. Contudo, em vez de nos envergonharmos disso (...) devemos reconhecer a oportunidade que temos para servir o mundo. É vivendo juntos e respeitando, por um lado, as diferenças resultantes de ambientes sociopolíticos distintos e, por outro, os interesses comuns que unem todas as pessoas. Se, em vez disso, seguirmos cegamente o exemplo da Europa e cultivarmos o egoísmo nacional, teremos de desenvolver desprezo pelos outros e de fomentar os ódios e os ciúmes nacionais necessários para o nacionalismo agressivo." (p.339)

In O Futuro da América de Simon Schama

sábado, maio 29

Daniel Cohn-Bendit

Os blogs também servem para denunciar, divulgar.

O ensino do Desenho


"Tendo aprendido a desenhar, Feynman chegou à conclusão de que em física «temos tantas técnicas - tantos métodos matemáticos - que estamos constantemente a dizer aos alunos como é que devem fazer as coisas». Por outro lado, o professor de desenho tem medo de nos dizer seja o que for (...) O professor não nos quer empurrar numa direcção em particular, e por isso o ensino do desenho procede mais por osmose do que propriamente por instrução. Por outro lado, o professor de física ensina sempre técnicas em vez de espírito, ensina modos de ir resolvendo os problemas da física. Santo Agostinho teria concordado." (p.136)
In As Lições dos Mestres, de George Steiner

quinta-feira, maio 27

Semana das Artes na Fernão Mendes Pinto

Uma tarde com os artistas plásticos Tara Wondenberg, Robert Wiley, Kojiro Toyoda, Jamie Goodyear e Fernanda Guerreiro, que pesquisam e desenvolvem as potencialidades do vidro na Faculdade de Ciências e Tecnologia. Na manhã seguinte, Francisco Pinheiro num workshop de pintura, utilizando tintas artesanais. Ingredientes usados: empenho, disponibilidade e muita simpatia.





sábado, maio 22

Mourinho, o maestro


Mourinho é um maestro, um grande maestro - não um compositor. Mourinho faz-me lembrar Dudamel, o maestro venezuelano. Novos, irreverentes, inteligentes. Dirigem as melhores orquestras do mundo, mas Mourinho é incapaz de criar.
Recordem-se das equipas por onde passou. No futebol praticado por todas elas, não encontram uma maneira de jogar à Mourinho. Arguto, José Mourinho, adapta-se ao futebol de cada país. Aprende a língua rapidamente com o objectivo de entender, clarificar, valorizar o futebol de cada um: no F. C. do Porto, interpretava melhor que ninguém o futebol luso-brasileiro; no Chelsea, o futebol inglês, total e ofensivo, marcou-o definitivamente e quer voltar; no catenaccio italiano, mesmo num Inter recheado de sul americanos, vem confirmar o brilhante maestro em que se tornou. Interpretou Herrera melhor que todos os outros.
Como português, não pode ficar num futebol que não quer a bola. Agora percebo a desilusão de Mourinho pelo futebol italiano.

quarta-feira, maio 19

Ficou sem jeito

Imagem DN

Judite de Sousa e José Alberto Carvalho preparam-se mal: fazem perguntas banais, reagem emotivamente, esquecem que estão a prestar um serviço público, num canal público. Ao abordar os salários dos políticos, Sócrates comparou o seu com o dos apresentadores. Judite corou, pestanejou um pouco mais, ficou sem jeito. Também eles deviam pedir desculpa aos portugueses.

domingo, maio 16

Wolf Hall

Não foi fácil acabar o vencedor do Man Booker Prize 2009, Wolf Hall, de Hilary Mantel. Durante as 658 páginas, nunca encontrei o ritmo certo. A leitura espaçada também não ajudou. A primeira e segunda partes são muito descritivas, com inúmeras personagens que, para comprender as afinidades entre elas e para me situar, me remeteram regularmente para as primeiras páginas.
O livro leva-nos para a Inglaterra de Henrique VIII, para o atribulado casamento com Ana Bolena e consequente corte com a Igreja Católica Romana e, também, para o carácter e integridade de Tomás More.

Desenho de Hans Holbein

Dois recortes:

....
"- Gostaria de pintar Anne Boleyn?
- Não sei. Pode não querer ser estudada.
- Dizem que não é bonita.
- Não, talvez não seja. Vós não iríeis escolhê-la como modelo para uma Primavera. Ou para uma estátua da Virgem. Ou para a imagem da paz.
- Para quê então? Eva? A Medusa? – Hans (Holbein) ri-se. – Não respondais!
- Ela tem uma grande presença, esprit… É algo que não se consegue mostrar numa pintura."

... página 658 e última:
(Thomas)More encontra-se junto ao cepo, consegue vê-lo agora. Está embrulhado numa áspera capa cinzenta que, recorda, pertencia ao criado dele, John Wood. Está a falar com o carrasco, aparentemente a fazer-lhe alguma observação sarcástica, sacudindo a chuva do rosto e da barba. Está a retirar a capa, cuja orla está encharcada de água da chuva. Ajoelha-se diante do cepo, os lábios movem-se numa oração final.

sábado, maio 15

Saldanha Sanches


Eu também gostava muito de o ouvir. Um excerto de uma entrevista dada a Isabel Lucas, do Diário Económico.

"Mas estava a falar do bom capitalismo, do capitalismo dos países escandinavos. Acha que é possível transpô-lo para cá?

Nós cá temos um mau capitalismo. Hoje temos a crise que não tem nada a ver com isso, e que atingiu todos, ninguém escapou. Mas o nosso mau capitalismo tem um crescimento do produto muito baixo, meio por cento, e esse mau capitalismo... Hoje vimos aqui (numa conferência no CCB) Francisco Louçã enunciar alguns aspectos do pior do nosso capitalismo; mas para o Francisco Louça não há mau capitalismo. O capitalismo para ele é mau. Ponto. Acabou. A conclusão dele é que o capitalismo é mau em si. O PS e o CDS e o PSD, como são a expressão política desse mau capitalismo, não o podem denunciar. Isto é trágico. Os partidos com um programa que podia ser realista estão comprometidos com as piores formas de capitalismo. Aliás, para citar um homem do PSD, o Pacheco Pereira, são escolas do crime. Criam o crime. Não vale a pena tentar dizer mais. Quer dizer, nós não podemos ir a lado nenhum enquanto uma auto-estrada custar não 500, mas mil. Não podemos. Não há meios suficientes para fazer isso. Agora quem denuncia esse tipo de práticas são apenas aqueles que são contra o capitalismo."

quarta-feira, maio 12

Richard Serra, Prémio Astúrias das Artes

Escultor minimalista que privilegia, em trabalhos abstractos, a ordem, a clareza e a simplicidade. Reparem na escala colossal desta obra! Não faria o menor sentido se não fosse desta dimensão, pois não?
Ao artista norte-americano o que lhe interessa é a experiência dos visitantes a percorrer e a viver as suas esculturas. Thomas Krens, director da Fundação Guggenheim, chegou a comparar este espaço com a Capela Sistina. Serra, com sentido de humor, contestou a entrevista concedida a ABC: «Krens não é o Papa, nem eu Miguel Ângelo».

domingo, maio 9

Aguarela de Fred Lynch

“Não desejo mais uma rosa no Natal
Do que neve em Maio, plena Primavera
Mas gosto de cada coisa na estação certa”
Shakespeare

sábado, maio 8

Padre Anselmo Borges

Ilustração do DN

Dedicarei algum tempo da próxima Quinta, dia da visita papal a Lisboa, a ler e a reler artigos do Padre Anselmo Borges. Sigo-o no DN, todos os sábados. Leiam o último. (Jesus: de direita ou de esquerda?)

sábado, maio 1

Jesus e Guardiola

O que há em comum nos dois? Resposta: a boa educação.
O primeiro não prima pelo discurso polido e articulado, mas educação não é isso, pois não? É solidariedade, é simpatia, é carácter, é verdade. E Jesus é bem-educado. Reparem nas suas equipas e no seu futebol. Escolhe sempre os jogadores mais solidários ea táctica é simples: deslocam-se em bloco como de um cardume se tratasse, sempre muito próximos, entreajudam-se no desarme, cortam linhas de passe num movimento homogéneo e inteligente, quando na área, vejam o simbolismo, chegam a dar as mãos; com a bola, mantêm a estrutura, disponibilizam-se para a receber e quem a tem (está aqui o segredo do sucesso!) passa-a a quem a pede ou a quem se desmarca, porque seria uma falta de cortesia não o fazer. Esta proximidade de jogadores e esta disponibilidade em passar e receber a bola são as principais características do futebol implementado pelos grandes treinadores. Estas equipas dão a sensação de se esquecerem do principal objectivo do jogo – fazer golos. Há uma aparente falta de objectividade, como quem diz não faremos golo sem que a bola passe por todos. O golo é sempre o resultado de uma longa brincadeira e, por isso, comemoram-no juntos. A amizade e as grandes equipas constroem-se sem donos da bola. É neste futebol de rua que todos gostam de jogar - jogar à bola! As grandes equipas divertem-se, querem jogar. Sem altruísmos não pactuam com a simulação, o embuste, os túneis, porque futebol não é nada disso.