segunda-feira, agosto 30

39 graus


Dos fumos da distância,
Étereos e azulados,
Surge, vertiginoso,
Um resplendor de chama.
Há fogueiras queimando
Os longes ensombrados;
Dir-se-á que o nosso olhar tudo o que toca inflama.

Teixeira de Pascoaes

segunda-feira, agosto 16

Eça de Queirós morreu a 16 de Agosto de 1900


"Basílio achava-a irresistível; quem diria que uma burguesinha podia ter tanto chique, tanta queda? Ajoelhou-se, tomou-lhe os pezinhos entre as mãos, beijou-lhos; depois, dizendo muito mal das ligas 'tão feias, com fechos de metal', beijou-lhe respeitosamente os joelhos; e então fez-lhe baixinho um pedido. Ela corou, sorriu, dizia: 'não! não!" E quando saiu do seu delírio tapou o rosto com as mãos, toda escarlate; murmurou repreensivamente:
- Oh, Basílio!
Ele torcia o bigode, muito satisfeito. Ensinara-lhe uma sensação nova; tinha-a na mão!"
Os Maias

quarta-feira, agosto 11

30 anos de sacrifício pelo futebol

Quando ouvi Alex Fergunson dizer, entre as banalidades do costume, que Carlos Queiroz "tem 30 anos de sacrifício pelo futebol", pensei que o significado da palavra sacrifício na língua inglesa não seria o mesmo da língua portuguesa. Mas é. Será que os vencimentos milionários e a opulência em que vive os dirigentes e jogadores dos grandes clubes os levam a pensar, no altruismo habitual, que renunciaram voluntariamente a algo de precioso quando escolheram este desígnio?

segunda-feira, agosto 9

Expiação

Dificilmente abandono um livro a meio. Para me defender de longas horas de enfado, a escolha das minhas leituras são criteriosas: sigo as recomendações de algumas revistas e jornais, sugestões de amigos, autores, etc.
Expiação de Ian McWean (Gradiva) foi, para muitos críticos literários, um dos melhores romances da década.

Expiação é realmente um grande livro. Tenho o filme para ver.
“- Foda-se!
A palavra que ele deixou escapar fez ricochete pela enfermaria, parecendo repetir-se várias vezes. Por detrás da cortina reinava o silêncio, ou pelo menos os sons foram atenuados. Briony continuava com o pedaço de metal ensanguentado na pinça. Devia ter uns dois centímetros de comprimento e era pontiagudo. Ouviu-se alguém aproximar-se com passos firmes. Briony deixou cair o estilhaço para a ebonite no preciso momento em que a Irmã Drummond afastou a cortina. Foi com uma expressão absolutamente calma que olhou para os pés da cama para tomar nota do nome do soldado e, eventualmente, do diagnóstico. Depois aproximou-se dele e olhou-o bem de frente.
- Como se atreve? – disse ela em voz baixa. Depois repetiu: - Como se atreve a falar assim à frente de uma das minhas enfermeiras?
- Desculpe, Irmã. Saiu-me.
A Irmã Drummond olhou com desdém para a ebonite.
- Comparados com os casos que temos visto nas últimas horas, aviador Young, os seus ferimentos são superficiais. Por isso dê-se por muito feliz. E veja se se mostra à altura do seu uniforme. Continue enfermeira Tallis. “ (p.340)

sexta-feira, agosto 6

Fui a Alvalade ver os dinamarqueses

Verde, demasiado verde. Adeptos generosos. Muitas mulheres. Um vazio de futebol, meu Deus!: Polga e Postiga, casos de polícia; Carriço, Vukcevic e Djaló, sem estaleca; Liedson fora de prazo; André Santos, Pongole e chilenos, equívocos; Maniche e João Pereira serão tragados pela mediocridade; o "mister" Paulo Sérgio, o protagonista, quer fazer-nos acreditar que com aqueles jogadores (os mesmos…, vejam bem!) lutará pelos primeiros lugares. Ah, Ah!

domingo, agosto 1

Philip Roth


As pessoas podem ser perversas, nojentas, cruéis e ao mesmo tempo fascinantes, divertidas, comoventes?

O judeu norte-americano Alexandre Portnoy consegue.


«Respira pelo nariz, faz de conta que estás a nadar.»
«Mas não estou.»
«FAZ DE CONTA!», sugeri eu, e embora ela tivesse feito mais uma garbosa tentativa, veio à tona poucos segundos depois num paroxismo de tosse e de choro. Tomei-a então nos braços (a essa rapariga linda, tão cheia de boa vontade! Que o Mozart convenceu a fazer um b***** ao Alex! Oh, tão doce como a Natacha da Guerra e Paz! Condessazinha adorável!). Embalei-a, brinquei com ela, fi-la rir, disse-lhe pela primeira vez, «também eu te amo, minha querida», mas a verdade é que se tornara para mim mais do que evidente que apesar de todas as suas qualidades e encantos – a sua dedicação, a sua beleza, a sua graça de corça, o seu lugar na história americana – eu nunca poderia sentir «amor» pela Peregrina. Intolerante com as suas fraquezas. Invejoso dos seus feitos. Cheio de raiva contra a sua família. Não, nada disto deixava grande margem para o amor. P.234
In O Complexo de Portnoy de Philip Roth