domingo, agosto 1

Philip Roth


As pessoas podem ser perversas, nojentas, cruéis e ao mesmo tempo fascinantes, divertidas, comoventes?

O judeu norte-americano Alexandre Portnoy consegue.


«Respira pelo nariz, faz de conta que estás a nadar.»
«Mas não estou.»
«FAZ DE CONTA!», sugeri eu, e embora ela tivesse feito mais uma garbosa tentativa, veio à tona poucos segundos depois num paroxismo de tosse e de choro. Tomei-a então nos braços (a essa rapariga linda, tão cheia de boa vontade! Que o Mozart convenceu a fazer um b***** ao Alex! Oh, tão doce como a Natacha da Guerra e Paz! Condessazinha adorável!). Embalei-a, brinquei com ela, fi-la rir, disse-lhe pela primeira vez, «também eu te amo, minha querida», mas a verdade é que se tornara para mim mais do que evidente que apesar de todas as suas qualidades e encantos – a sua dedicação, a sua beleza, a sua graça de corça, o seu lugar na história americana – eu nunca poderia sentir «amor» pela Peregrina. Intolerante com as suas fraquezas. Invejoso dos seus feitos. Cheio de raiva contra a sua família. Não, nada disto deixava grande margem para o amor. P.234
In O Complexo de Portnoy de Philip Roth

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