O mundial da Rússia foi o mais aborrecido de todos os que me lembro ver. Mesmo para aqueles que dissertaram sobre cada partida querendo fazer de cada uma delas um jogo de suprema estratégia, quais generais a por e a
dispor os seus soldadinhos de chumbo num campo de batalha, ainda assim, não conseguiram negar a evidência – que estopada foi este futebol por terras russas. Ouvi-los, jogo após jogo, tentar seguir os raciocínios elaborados foi o primeiro passo para percebermos que não
estávamos a ver a mesma coisa. Esforçaram-se muito, é verdade. A linguagem é cada vez mais cuidada e o vocabulário específico assertivo. No entanto, o futebol praticado de há uns anos para cá não acompanha esta vontade veemente
de o entender racionalmente, de ver beleza onde o belo não toca, de o vender como
de obra de arte se tratasse.
Desde que os treinadores e os seus afeiçoados comentadores começaram
a ter um protagonismo inusitado, a qualidade do futebol nas quatro linhas mirrou: o rigor e
a disciplina férreas espartilharam o jogo, os esquemas táticos, assinados por
estrategas de gravata e fato armani, tiraram-lhe
o improviso, o pragmatismo seco e inestético impôs-se. Aos domesticados craques
da favela ou do bairro pobre parisiense resta-lhes apenas escolher a cor das
chuteiras, os cortes de cabelo e as tatuagens.
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