À minha frente, pai e dois filhos adolescentes, gémeos, um
de cada lado numa simetria perfeita. O da esquerda jogou futebol todo o tempo no
seu smartphone; o da direita, de smartphone também, procurou
incessantemente algo que o distraísse; ao meio, o pai, alto, tal como os filhos,
cabelo cuidado, camisa engomada de colarinhos rijos apertados por uma gravata a
condizer, sobretudo comprido de corte clássico - esteve frio em Alvalade. Durante
todo o tempo mantiveram a posição correcta na cadeira, costas bem apoiadas e
pés bem assentes no chão. Se os rapazes tinham os cachecóis enrolados ao
pescoço, o do pai esteve sempre nas mãos. Em movimentos quase imperceptíveis e durante todo o jogo aquelas mãos não pararam
de dobrar, puxar, torcer, enrolar, amarrotar, esmagar aquele cachecol verde
desfiado.
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