Ano após ano,
a pergunta repete-se: desta vez, curiosamente, surgiu localizada no tempo, Também
conseguiu ler Os Maias, na escola? Comecei pelo sim, que já lera e acabei no
não - na escola, não. Li, recordo-me, o clássico de Eça uns anos mais tarde,
assim como uma grande parte da sua obra. Num Verão que adivinhava trôpego, comecei
pelo Jacinto de Tormes, em A Cidade e as Serras, porque era o mais pequeno, e
acabei, deveras impressionado, com O Crime do Padre Amaro. Pelo meio, li as
seiscentas e tal páginas d`Os Maias, que tanto me intimidaram anos atrás, e percebi,
definitivamente, porque deve ser um livro de leitura obrigatória. Percebi,
também, como esta obrigatoriedade acaba por nos estragar tão grande prazer.
Todos sabemos que um dos factores fundamentais para usufruirmos de algo é
termos vontade de, sermos, no fundo, donos do nosso tempo. Tarefa árdua a dos
professores, “ensinar será sempre dizer a outro como deve pensar e
comportar-se. É uma imposição, … uma violação da vontade.” (João L. Antunes, Numa
Cidade Feliz)
Como conquistá-los então para a leitura? Em primeiro lugar, que livros recomendar-lhes?
Temos a noção de que as nossas preferências e as expectativas deles são naturalmente
diferentes? Conseguimos contrariar a imagem académica do acto de ler,
absolutamente desmobilizadora para os jovens? Alguém disse, num aparente paradoxo,
que a leitura é um exercício lúdico que se dá bem com a quietude. Neste sentido, parece-me que só
pelo exemplo e pelo gozo estampado nos nossos rostos podemos enfatizar o lado mais
lúdico da leitura e assim seduzi-los.
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