Sábado, estação de Coina. Acabara de partir. O próximo comboio, só as
14h53. Ao fim de semana é assim. Linha 3. Entrei para uma carruagem
literalmente vazia. Estação seguinte, Fogueteiro. Entram três pessoas. Uma,
jovem guineense de cara redonda e testa alta, tranças finas, pele sedosa e
negra – negra da guiné, percorreu, presa ao telemóvel, toda a carruagem vazia sentando-se à minha
frente. Surpreendido com a escolha, ocupei devidamente o
meu lugar, disponibilizando parte do exíguo espaço entre nós. Camisa e calças
brancas apertavam uma vitalidade transbordante. Nem uma pequena alteração no
olhar. O olhar seguia a voz, alta e desinibida. A conversa, colorida, era sobre
rapazes angolanos, guineenses e a nova conquista são-tomense, lindo de morrer,
dizia. Ria alto, dentes perfeitos. E eu ali. Beijinhos. Silêncio breve. Um ritmo
africano devolveu-lhe de novo o samsung rosa. Não atendeu, e riu de novo. Tão
brancos. O olhar cruzou o meu, mas olhou para além de mim. A idade
torna-me invisível.
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