domingo, abril 29

Invisível


Sábado, estação de Coina. Acabara de partir. O próximo comboio, só as 14h53. Ao fim de semana é assim. Linha 3. Entrei para uma carruagem literalmente vazia. Estação seguinte, Fogueteiro. Entram três pessoas. Uma, jovem guineense de cara redonda e testa alta, tranças finas, pele sedosa e negra – negra da guiné, percorreu, presa ao telemóvel, toda a carruagem vazia sentando-se à minha frente. Surpreendido com a escolha, ocupei devidamente o meu lugar, disponibilizando parte do exíguo espaço entre nós. Camisa e calças brancas apertavam uma vitalidade transbordante. Nem uma pequena alteração no olhar. O olhar seguia a voz, alta e desinibida. A conversa, colorida, era sobre rapazes angolanos, guineenses e a nova conquista são-tomense, lindo de morrer, dizia. Ria alto, dentes perfeitos. E eu ali. Beijinhos. Silêncio breve. Um ritmo africano devolveu-lhe de novo o samsung rosa. Não atendeu, e riu de novo. Tão brancos. O olhar cruzou o meu, mas olhou para além de mim. A idade torna-me invisível.

Sem comentários:

Enviar um comentário