segunda-feira, abril 30
domingo, abril 29
Invisível
Sábado, estação de Coina. Acabara de partir. O próximo comboio, só as
14h53. Ao fim de semana é assim. Linha 3. Entrei para uma carruagem
literalmente vazia. Estação seguinte, Fogueteiro. Entram três pessoas. Uma,
jovem guineense de cara redonda e testa alta, tranças finas, pele sedosa e
negra – negra da guiné, percorreu, presa ao telemóvel, toda a carruagem vazia sentando-se à minha
frente. Surpreendido com a escolha, ocupei devidamente o
meu lugar, disponibilizando parte do exíguo espaço entre nós. Camisa e calças
brancas apertavam uma vitalidade transbordante. Nem uma pequena alteração no
olhar. O olhar seguia a voz, alta e desinibida. A conversa, colorida, era sobre
rapazes angolanos, guineenses e a nova conquista são-tomense, lindo de morrer,
dizia. Ria alto, dentes perfeitos. E eu ali. Beijinhos. Silêncio breve. Um ritmo
africano devolveu-lhe de novo o samsung rosa. Não atendeu, e riu de novo. Tão
brancos. O olhar cruzou o meu, mas olhou para além de mim. A idade
torna-me invisível.
terça-feira, abril 24
Um exercício lúdico
Ano após ano,
a pergunta repete-se: desta vez, curiosamente, surgiu localizada no tempo, Também
conseguiu ler Os Maias, na escola? Comecei pelo sim, que já lera e acabei no
não - na escola, não. Li, recordo-me, o clássico de Eça uns anos mais tarde,
assim como uma grande parte da sua obra. Num Verão que adivinhava trôpego, comecei
pelo Jacinto de Tormes, em A Cidade e as Serras, porque era o mais pequeno, e
acabei, deveras impressionado, com O Crime do Padre Amaro. Pelo meio, li as
seiscentas e tal páginas d`Os Maias, que tanto me intimidaram anos atrás, e percebi,
definitivamente, porque deve ser um livro de leitura obrigatória. Percebi,
também, como esta obrigatoriedade acaba por nos estragar tão grande prazer.
Todos sabemos que um dos factores fundamentais para usufruirmos de algo é
termos vontade de, sermos, no fundo, donos do nosso tempo. Tarefa árdua a dos
professores, “ensinar será sempre dizer a outro como deve pensar e
comportar-se. É uma imposição, … uma violação da vontade.” (João L. Antunes, Numa
Cidade Feliz)
Como conquistá-los então para a leitura? Em primeiro lugar, que livros recomendar-lhes?
Temos a noção de que as nossas preferências e as expectativas deles são naturalmente
diferentes? Conseguimos contrariar a imagem académica do acto de ler,
absolutamente desmobilizadora para os jovens? Alguém disse, num aparente paradoxo,
que a leitura é um exercício lúdico que se dá bem com a quietude. Neste sentido, parece-me que só
pelo exemplo e pelo gozo estampado nos nossos rostos podemos enfatizar o lado mais
lúdico da leitura e assim seduzi-los.
quinta-feira, abril 19
O vulcão
O futebol de Sá Pinto é claro, consistente, perspicaz. A entrega, total. Que
diferença para o futebol domingueiro de alterações inesperadas, de improvisações
desconcertantes, de incertezas. Num rosto e num coração prestes a explodir, o
discurso é, paradoxalmente, contido e as palavras cuidadosamente medidas. Até quando? O
vulcão vai rebentar, todos sabemos isso, e quando isso acontecer sairão a
terreiro as "memórias frescas" e peçonhentas, achincalhando-o pelo murro e pontapé
de tempos idos.
domingo, abril 15
A maneira islandesa
Es el país donde se rompió la ortoxia, la nación que espanto
al sistema establecido al negarse a responder por los errores de sus bancos.
Pero ahora es la envidia de los países europeos. Para ellos es el retorno a la
recesión; para Islandia, un año de crecimiento y caída del paro.
El FMI acaba de publicar su última revisión sobre el estado de
Islandia y las previsiones dicen que este año su economía crecerá un 2,4%, con
un consumo privado tirando al 3% y compensando la caída de la inversión pública
fruto de las medidas de austeridad. Y es que, sí, la temida consolidación fiscal
ha llegado a todas partes, pero en Islandia lo hizo "a su manera", en
palabras del FMI. Proteger el estado del bienestar se puso por encima de todo.
quinta-feira, abril 12
domingo, abril 8
Cordeiro Místico
Tive um professor de História da Arte que, tendo percorrido todos os grandes museus da Europa, elegia o Retábulo da Adoração do Cordeiro Místico, de Jan van Eyck, como a obra que mais o tinha impressionado. Numa visita à Bélgica, desloquei-me a Gand para confirmar. O políptico é de grandes dimensões e realmente impressiona: registo minucioso, atenção dada a cada detalhe da natureza, luminosidade das cores, elaborado jogo de luz e sombra, complexidade e riqueza de símbolos. Mas o Adão e Eva sobressaem. São espantosos, e de execução primorosa. Quase em tamanho natural, com uma nudez e gestos mais reais do que o acontecimento principal, transportam, no fundo,o sagrado para a esfera do humano. Únicos.
A escolha das minhas obras de arte preferidas começou desde os primeiros dias do blog, mas agora, sem entraves nem condicionalismos de qualquer ordem, construirei a minha galeria virtual, à semelhança do Google ArtProject. Usarei a etiqueta My Gallery, que surripiei também ao Google.
quinta-feira, abril 5
quarta-feira, abril 4
1,49 euros
Não se trata de uma natureza-morta de um mestre flamengo, mas sim de uma fotografia tirada por alguém perplexo na hora de escolher maçãs. Em alturas de crise e forte preocupação ambiental, a origem dos produtos é importante. Se repararem na foto as Royal Gala custam 1,49 euros, tal como as Starking e as Golden Delicious. As primeiras colhidas na Nova Zelândia!!! e as outras na Argentina e Portugal. Da América do Sul e da China estamos habituados: mão-de-obra barata e escrava, sem segurança social, blá, blá blá. Mas da Nova Zelândia? Alguém consegue explicar a razão do preço ser idêntico?
segunda-feira, abril 2
A bela San Suu Kyi e os generais
"Esperamos que este seja o princípio de uma nova era,
em que o papel das pessoas na política no quotidiano se vai acentuar".
Aung San Suu Kyi.
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