terça-feira, março 20

Choupos, áceres, castanheiros-da-índia ...

Ana Filipa

Sou de uma pequena vila onde uma falha geológica faz brotar águas minerais gaseificadas, que uma empresa se lembrou de vender em pequenas garrafas verdes. Eram homens de bom gosto, diga-se. Construíram um magnífico hotel, o Palace, e rodearam-no por milhares e milhares de árvores das mais variadas espécies e das mais variadas latitudes. Tudo isto começou há muitos anos. Agora, plátanos vigorosos misturam-se com todas as espécies de cuprésseas, choupos, áceres, castanheiros-da-índia, amieiros, carvalhos-americanos, uma sequóia gigante - que viverá por mil anos; copas de tílias de uma perfeição incrível pontuam uma paisagem que no Outono atinge a perfeição. Não exagero se disser que os de Vidago conhecem as árvores uma a uma. O meu pai também.
Gosto de quem gosta de árvores. Uma boa escola trata bem delas. É uma atitude altruísta e nobre esta de plantar e de ensinar, porque os seus frutos, se os houver, só aparecerão muito tempo depois e fundamentalmente para os outros.
Entrei pelo portão de baixo e percebi que ia gostar da Fernão Mendes Pinto. A um frondoso pinheiro-manso e a duas oliveiras já adultas, que marcam um dos limites da escola, sucedem-se cedros, nespereiras, árvores de incenso e do frio, ameixeiras-silvestres de um vermelho intenso, figueiras, olaias e tantas outras, todas elas jovens e viçosas. Por toda a escola, o cuidado mantém-se: um belo e discreto cipreste marca o terceiro pavilhão; um cedro e um pinheiro pujantes aconchegam a biblioteca; palmeiras e uma bananeira dão um toque meridional; tílias recentes, e ainda tão frágeis, unirão com a sua sombra os vários blocos; variadíssimas espécies suavizam e embelezam os limites da escola.
Terão entre os treze e os dezoito anos. São das mais variadas espécies, de origens diversas, com formas e graus de desenvolvimento diferentes. Para tratar delas um batalhão de silvicultores, botânicos, jardineiros e especialistas da nossa flora. Uns, poucos, não gostam daquilo que fazem e acham que as espécies já não são o que eram, que as ferramentas não são as mais adequadas, que o tempo se alterou irremediavelmente. Os outros, uma larga maioria, são estudiosos, preocupados, generosos, partilham conhecimentos e experiências, estão atentos na observação de cada uma. Perante o sucesso, um inefável bem-estar apodera-se deles, face ao insucesso, agem com mais determinação, mexem na terra, revolvem-na, analisam-na, combatem os fungos e as ervas daninhas, compensam-na com fertilizantes de acordo com as necessidades da cada espécie, são meticulosos nas regas para as não asfixiar com excesso de água ou definhá-las com a falta dela. Dentro deste grupo, uns há, que as estacam, que as dirigem na direção que acham certa, podam-nas de acordo com seu gosto, moldam-nas conforme a educação que tiveram, preferem certo tipo de árvores – as mais dóceis. Outros gostam da diversidade, preferem deixá-las crescer livremente preocupando-se exclusivamente com criação das melhores condições para que esse desenvolvimento se faça e se potencie as capacidades de cada uma.


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