sexta-feira, março 30

Dormem com ele?


“Mais de metade dos portugueses sofre de falta de sono”. Público


Em que parte estão os homens e mulheres quando o cheiro do seu trabalho fede? Quando alguém decide deslocalizar uma fábrica, participar na delapidação do erário público, fazer contratos ruinosos para terceiros, cheira mal. Este cheiro entranha-se, não sai, mesmo que se lavem uma e outra vez. As esposas sentem-no. Dormem com ele? Protestam? Ou entretêm-se, indiferentes?

domingo, março 25

Tarantella Napoletana



Ponham os auscultadores, aumentem um pouco o volume a um nível incompatível com o pensamento e digam-me se há mais bela que esta Tarantella. Se vos apetecer dar um passo de dança não o façam sós, diz-se que dançar a tarantella sozinho dá má sorte.


terça-feira, março 20

Choupos, áceres, castanheiros-da-índia ...

Ana Filipa

Sou de uma pequena vila onde uma falha geológica faz brotar águas minerais gaseificadas, que uma empresa se lembrou de vender em pequenas garrafas verdes. Eram homens de bom gosto, diga-se. Construíram um magnífico hotel, o Palace, e rodearam-no por milhares e milhares de árvores das mais variadas espécies e das mais variadas latitudes. Tudo isto começou há muitos anos. Agora, plátanos vigorosos misturam-se com todas as espécies de cuprésseas, choupos, áceres, castanheiros-da-índia, amieiros, carvalhos-americanos, uma sequóia gigante - que viverá por mil anos; copas de tílias de uma perfeição incrível pontuam uma paisagem que no Outono atinge a perfeição. Não exagero se disser que os de Vidago conhecem as árvores uma a uma. O meu pai também.
Gosto de quem gosta de árvores. Uma boa escola trata bem delas. É uma atitude altruísta e nobre esta de plantar e de ensinar, porque os seus frutos, se os houver, só aparecerão muito tempo depois e fundamentalmente para os outros.
Entrei pelo portão de baixo e percebi que ia gostar da Fernão Mendes Pinto. A um frondoso pinheiro-manso e a duas oliveiras já adultas, que marcam um dos limites da escola, sucedem-se cedros, nespereiras, árvores de incenso e do frio, ameixeiras-silvestres de um vermelho intenso, figueiras, olaias e tantas outras, todas elas jovens e viçosas. Por toda a escola, o cuidado mantém-se: um belo e discreto cipreste marca o terceiro pavilhão; um cedro e um pinheiro pujantes aconchegam a biblioteca; palmeiras e uma bananeira dão um toque meridional; tílias recentes, e ainda tão frágeis, unirão com a sua sombra os vários blocos; variadíssimas espécies suavizam e embelezam os limites da escola.
Terão entre os treze e os dezoito anos. São das mais variadas espécies, de origens diversas, com formas e graus de desenvolvimento diferentes. Para tratar delas um batalhão de silvicultores, botânicos, jardineiros e especialistas da nossa flora. Uns, poucos, não gostam daquilo que fazem e acham que as espécies já não são o que eram, que as ferramentas não são as mais adequadas, que o tempo se alterou irremediavelmente. Os outros, uma larga maioria, são estudiosos, preocupados, generosos, partilham conhecimentos e experiências, estão atentos na observação de cada uma. Perante o sucesso, um inefável bem-estar apodera-se deles, face ao insucesso, agem com mais determinação, mexem na terra, revolvem-na, analisam-na, combatem os fungos e as ervas daninhas, compensam-na com fertilizantes de acordo com as necessidades da cada espécie, são meticulosos nas regas para as não asfixiar com excesso de água ou definhá-las com a falta dela. Dentro deste grupo, uns há, que as estacam, que as dirigem na direção que acham certa, podam-nas de acordo com seu gosto, moldam-nas conforme a educação que tiveram, preferem certo tipo de árvores – as mais dóceis. Outros gostam da diversidade, preferem deixá-las crescer livremente preocupando-se exclusivamente com criação das melhores condições para que esse desenvolvimento se faça e se potencie as capacidades de cada uma.


sexta-feira, março 16

"Propinas aumentam 30 euros para financiar fundo de apoio a estudantes". Público


Quem legitimou os reitores para decidir a aplicação de novos impostos? A política fiscal não é competência exclusiva do Governo e Assembleia da República? A ajuda aos mais carenciados não é um problema nacional? Que raio de solidariedade é esta feita com o dinheiro de alguns?

Prazer é isto?




Da euforia ao desespero, tudo condensado em 90 minutos mais o agonizante prolongamento, não se traduzem em “Prazer é isto”, “Rei Leão”, “Épico”, etc, etc. Estes títulos são óptimos para outros jogos, para outros clubes. Eu não quero um Sporting que me coloque tenso à ponta do sofá, eu quero uma equipa a marcar cedo, a chegar ao intervalo a ganhar folgadamente e a dobrar o resultado no final. Depois as capas dos jornais: “Convincente”, “Demolidor”, “Sporting de sonho”.

terça-feira, março 13

Uma tarde com Pessoa

 Na Fundação, uma tarde com Pessoa e seus heterónimos. Um bom pretexto para reler alguns textos e como dizia Italo Calvino sobre os clássicos "toda a releitura é uma primeira leitura".


Não me macem, por amor de Deus! 

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável? 

Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa? 
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade. 
Assim, como sou, tenham paciência! 
Vão para o diabo sem mim, 
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo! 
Para que havemos de ir juntos? 

 Não me peguem no braço! 

Não gosto que me peguem no braço. 
Quero ser sozinho. Já disse que sou sozinho! 
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

[«Lisbon Revisited» (1923), Álvaro de Campos]

terça-feira, março 6

No tienen ni idea de lo que están hablando. Paul Krugman


… las falsas historias sobre a Europa se están utilizando para promover políticas que sérian crueles, destructivas, o ambas cosas. La próxima vez que oigan a la gente citar ejemplo de Europa para exigir que destruyamos nuestros programas de protección social e recortemos el gasto para hacer frente a una economia profundamente deprimida, esto es lo que necesitan saber: no tienen ni idea de lo que están hablando.

                                                    Paul Krugman, professor de economia de Princeton e prémio Nobel 2008
Todo o artigo aqui.


sábado, março 3

Jorge J. e o Dragão


Paolo Uccello, 1456


São Jorge encontrou um pobre eremita que lhe disse que todo o país estava em sofrimento, pois existia lá um enorme dragão azul cujo hábito de ganhar estava a destruir o país e cuja pele não poderia ser perfurada nem por lança, nem por espada. Também lhe disse que o dragão exigia o sacrifício de jovens raparigas, mas uma em particular deliciava-o - a bela donzela de roupa escarlate, educada com artes de quem sabe do ofício, e que ano após ano renascia. Conhecedor de tal história, Jorge ficou determinado em salvar a princesa. Reconhecido pela disciplina e pelas competências que nenhum outro tinha, passou dias e noites na cabana do eremita a pensar na estratégia a seguir. Rodeou-se dos mais belos trajes, quase todos de origem hispânica, e desafiou o dragão. O dragão, ao ver Jorge, saiu da caverna rosnando tão alto quanto o som de sessenta mil trovões. Jorge não sentiu medo e com bravas palavras desafiou o monstro, mas a lança, mais uma vez, não entrou na pele dura de tal dragão e a bela donzela, de roupa escarlate, ficou à mercê do insaciável dragão.