terça-feira, novembro 22

401 dólares


Kiah Kiean  


      Num post de maio, terminei perguntando de que cor seriam as bandeiras a desfraldar contra este estado de coisas que ninguém sabe objectivamente identificar, caracterizar, tão pouco catalogar. Nos últimos tempos, vivemos na angústia de não saber o que fazer, o que pensar, para onde apontar. Acontecem diariamente manifestações de indignados nas cidades mais improváveis;  chegam ao poder governos de tecnocratas não sufragados, em países de forte tradição democrática; alternam à direita e à esquerda por desgaste ou ineficácia em outros tantos países; surpreende a apropriação de reivindicações tão queridas da esquerda, como o fim dos paraísos fiscais ou a taxação sobre transações, por parte do presidente Sarkozy e a recusa destas mesmas medidas por parte Cameron; espanta, também, os recentes discursos inflamados do presidente Durão, fazendo lembrar a sua juventude maoista; e na terra de Mao - na China dos dois sistemas, a deslocalização de fábricas pelos mesmos motivos que as levaram a sair daqui. Há sempre outros países onde podem pagar menos.
    E este último problema, parece-me verdadeiramente a raiz de todos os males: a globalização económica sem critérios nem pudor. Um exemplo chocante no excerto do artigo de Leonídio Paulo Ferreira, no DN. Vale a pena ler na totalidade.
    Numa cidade do sul da China, "Sete mil trabalhadores protestavam contra uma série de despedimentos, prenúncio de uma deslocalização do Guangdong para outra província de mão-de-obra mais barata. É que o salário base mensal de 1100 yuans (173 dólares ou 128 euros) começa a ser demasiado alto para marcas que podem mudar num piscar de olhos o país onde fazem as suas encomendas.
    Na China, calcula-se que o salário mínimo anual ande já nos 1500 dólares. E vai subir. Ora, na Indonésia situa-se ainda nos 1027 dólares, no Vietname nos 1002 e na Índia nos 857. Na fila está a Birmânia, onde o custo anual de um trabalhador se fica pelos 401 dólares."


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