Quem ficou pelo título do post anterior poderá pensar que o amor não faz sentido para Amós Oz (e para mim) em época tão conturbada. Enganam-se. Para ilustrar procurei uma música que pudesse transmitir o poder do bom gosto e das relações cordiais. Levei tempo a encontrar, e encontrei uma música dos The Asteroids Galaxy, Golden Age, que me retém a atenção sempre que passa na tv como suporte ao anúncio da cerveja Heineken.
quinta-feira, julho 28
quarta-feira, julho 27
“Faça a paz, não o amor”. Amós Oz
Parecem-me oportunas as reflexões e as soluções de Amós Oz para o problema do fanatismo. Recortei daqui.
Poucos poderiam prever que o século XX desembocaria no século XI. Contudo, se o fanatismo é o sinal do desespero, Amós Oz aponta que a solução encontra-se na disseminação da esperança. Pelo menos entre os moderados, uma vez que somente os moderados de cada sociedade são capazes de combater o fundamentalismo.
Não devemos, contudo, nos ater apenas às manifestações óbvias do fanatismo.O fanatismo começa em casa. Atitudes fanáticas ocorrem sempre que se tenta mudar um parente querido, em tese para o seu próprio bem. O fanatismo pode ocorrer quando se tenta sacrificar-se em benefício do outro, para facilitar a realização do próximo ou da próxima geração. Em geral há sempre uma tentativa de controle, de manipulação, que quase sempre envolvem a culpa. O autor afirma que entre uma mãe que diz ao filho: “termina o teu café ou mato-te!”, e aquela que diz: “termina o teu café ou mato-me”, a primeira é certamente o menor dos males, pois a segunda obriga o seu filho a viver com culpa pelo resto de sua vida.
É um erro, portanto, tentar imaginar que o amor é aquilo que irá combater o fanatismo. É exatamente o amor que gera essa busca de modificar o outro. O fanático quase sempre é um sentimentalista, que prefere sentir a pensar.
Por esse motivo, Amós Oz busca desvencilhar a ideia de amor do movimento pacifista, tendo cunhado a frase “faça a paz, não o amor”.
Mas Amós Oz não é na verdade tão pessimista assim para com as relações interpessoais. Se o fanatismo começa em casa, o antídoto também está em casa. Para ele, de facto, nenhum homem e nenhuma mulher é uma ilha, pois todos temos a necessidade de vínculos com a família, os amigos, a cultura, a tradição, o país, a nação, o sexo ou a linguagem. Entretanto, a solução seria que as pessoas, em toda casa, toda família e toda conexão social, fossem de certa forma penínsulas: metade no oceano e metade no continente. Não seriam ilhas, tendo em vista que esse tipo de autonomia é impossível, mas manteriam seus vínculos sociais, sem buscar se alienar ao outro ou tentar modelar e obrigar o outro a adoptar o seu modo de ser.
Outra solução para o fanatismo é a criatividade, motivo pelo qual Amós Oz intitula a sua terceira conferência como O antídoto da imaginação. Se por um lado é extremamente sentimental, o fanático também peca pela falta de imaginação. O fanático em geral está profundamente influenciado pela conformidade e pela uniformidade, sendo facilmente susceptível a palavras de ordem – algo muito perceptível em regimes totalitários.
Amós Oz também aponta a literatura como um remédio possível. Apesar de admitir que as coisas não são tão simples, ler e trabalhar a consciência é um dos maiores remédios contra o fanatismo, para o qual ele indica Shakespeare, Gogol, Kafka, William Falkner, ou o poeta israelense, Yehuda Amichai, e o seu útil verso contra o fanatismo: “onde temos razão não podem crescer flores”.
Se nenhuma dessas soluções funcionarem, o único remédio possível para curar o fanatismo seria o senso de humor. Diz ele que nunca conheceu um fanático que possuísse senso de humor. Muitos possuem sarcasmo, em níveis até mordazes, mas não humor. O humor é a capacidade de rir de nós mesmos, como diz o autor: “O humor é relativismo, é a aptidão de vermos-nos como os outros podem nos ver, é a capacidade de entender que, por mais cheios de razão que estejamos e por mais terrivelmente equivocados que estejam os outros sobre nós, há sempre um certo aspecto disso tudo que é um pouco engraçado.” E, de fato, o humor pode ser uma arma extremamente eficaz para nos tornarmos imunes ao fanatismo.
segunda-feira, julho 25
Cartas de Vidago, Europe, aide moi! Europe, help me! Europa, helf mich!
Num texto de opinião publicado há alguns anos constatava eu que “… a mão que apertámos à Europa estava oleosa e escorregadia…” e a seguir vaticinava “…em breve, ela [a Europa] estará longe e indiferente às nossas lamentações, mas perto e intransigente para as suas exigências. Com efeito, o desenrolar dos acontecimentos confirmou a constatação e o vaticínio. A necessidade de ajuda continuou, mas não rumo a uma posição sólida e sustentável que nos permitisse retribuí-la. O desfecho desta constante dependência poderia ter sido trágico se não fosse uma nova oportunidade concedida pela estrutura em que estamos inseridos e que deverá ser utilizada não só para nos salvar mais uma vez do naufrágio como também para manter aquela estrutura intacta. Saibamos por isso aproveitá-la para não andarmos constantemente de mão estendida como um elo fraco sempre na iminência de se despegar.
Depois de muitas golfadas de oxigénio injectadas ao longo de mais que uma década, chegámos ao início do século XXI com o oxigénio gasto, mas continuámos numa frágil jangada porque não segurámos a mão da Europa com firmeza para seguirmos no sólido paquete que nos levasse a bom porto. Durante os últimos dez anos, a jangada balançava por cima de uma tempestade camuflada e prestes a eclodir. O paquete seguia de perto, transmitindo alguma segurança, mas parecia demasiado distante para o socorro no caso de a tempestade rebentar. Esta deu finalmente os seus sinais, agravados por alguns torpedos de marca “rating” que quase viraram a ‘balsa’ e até provocaram alguns danos no navio.
Depois de tão ameaçadora ofensiva, a tripulação reagiu finalmente numa atitude que se impunha há mais tempo e se vislumbra protectora não só para os iminentes náufragos como para todo o casco que necessita de urgente reparação. Resta a todos os passageiros e tripulantes, sem excepção, seguirem estritamente todas as regras para que no paquete haja um lugar seguro para todos e que se mantenha sólido e resistente a ameaças, sejam elas naturais ou fabricadas.
José M. Carvalho
domingo, julho 24
quinta-feira, julho 21
quarta-feira, julho 20
Ideia de Europa
Se a direita sempre valorizou a tradição e os nacionalismos, não estaremos a pedir muito a uma Europa de governos conservadores que aposte num projecto de integração e solidariedade?
terça-feira, julho 19
Cartas de Vidago, Crise versus rating
É preciso ficarmos endividados e entalados numa crise sem fim à vista para percebermos que há umas todas-poderosas instituições que sentenciam acerca da nossa pobreza apontando com o seu dedo penalizador: não emprestes mais dinheiro àquele, corres o risco de ficar sem ele. Já todos sabemos pela experiência e pela História que há sempre quem se queira aproveitar da miséria alheia. Seja pela usura, seja pelo aproveitamento das carências das vítimas, esse oportunismo pode assumir várias formas. O que me parece estar em causa no presente, confirmada por várias análises, é a descredibilização intencional para daí alguém tirar dividendos. Somos pobres e desprotegidos, mas ainda nos querem fazer mais pobres, para ficarmos ainda mais desprotegidos e assim termos que um dia pagar a protecção bem cara, com iminente perigo para as liberdades e direitos individuais. É a exploração do homem pelo homem na sua essência mais vil e primitiva, envolvida por uma capa moderna e sofisticada cheia de gráficos, números, percentagens e anglicismos contundentes. Tudo evolui, mas há mecanismos que se mantêm inalterados desde que há mais de dez mil anos, o homem descobriu que se for mais forte se sente na legitimidade de aniquilar o mais fraco.
Portugal é um país com uma língua falada por mais de duzentos milhões de pessoas; tem potencial humano que teve papel fundamental na reconstrução do caos deixado pela segunda guerra mundial; nos últimos vinte anos renasceu de um enorme atraso estrutural; tem o direito de se reclamar um dos pioneiros de um mundo global com mais de quinhentos anos; ajudou a descobrir e a edificar o maior e mais poderoso país do mundo; teve a capacidade de absorver mais de um milhão de retornados das ex-colónias; orgulha-se de ter uma diáspora que tem dado provas de responsabilidade, perseverança e capacidade de trabalho; forma técnicos e quadro superiores com lugares de destaque em todo o mundo. Apenas enunciando algumas qualidades. Um país com estas características é considerado “lixo”. Com que bases nos colocam num patamar tão fedorento? Que legitimidade têm estas instituições que mandam tapar o nariz aos que nos querem visitar? Porque só existem três, e todas sedeadas no mesmo país? O poder tem-se concentrado de tal forma que basta um estalar de dedos para arruinar uma grande empresa, uma região ou um país. É caso para inferir: está legitimada a bomba atómica da economia? Os alvos estão indefesos e as vítimas estão inocentes. Cuidado! Aprenda-se com a História e encontrem-se outras soluções. Relembro que o recurso à letal bomba foi aplicado porque se tratava de um país agressor com intenções de domínio planetário. E nós, somos um país agressor? Por que nos querem fazer mal? Porque estamos integrados num conjunto que poderá ser agressor? A Europa, no seu conjunto, tem-se afigurado muito mais como uma aliança reguladora do que agressora, por isso não vejo razões para tanta hostilidade. Portugal, apesar de todas as potencialidades, apenas tem um enorme problema que nunca mais consegue resolver: consegue muito melhor desempenho laboral fora do país do que dentro das suas fronteiras. Problema justificado pelos fracos recursos nacionais comparados com os de outros países. Mesmo assim poderiam explorar-se muito melhor. E foi aqui que desperdiçámos a soberana oportunidade de criar também uma estrutura produtiva competitiva e sustentável. Podemos pelo menos contar com uma boa recuperação estrutural que em muito contribuiu para o nosso endividamento. Agora que não se pode regressar ao passado, resta-nos rentabilizar essas estruturas privilegiando a produção em detrimento do pavoneio exibicionista alimentado pelo consumismo descontrolado. Será que ainda vamos a tempo? Não basta cortar na despesa e aumentar as receitas sempre com a contribuição dos mesmos sacrificados. Para o pagamento da dívida e a criação de condições de sustentabilidade têm que ser convocados todos os agentes para que seja feita uma distribuição equitativa de responsabilidades e a proporcional atribuição das tarefas a desempenhar tendo em vista nobres desígnios de afirmação, dignidade e soberania.
José M. Carvalho
domingo, julho 17
Cartas de Vidago, Geração Vinil
Eis a designação dada à noite de 9 de Julho última, para um programa com jantar e “dancing all night long” no Casino de Chaves.Do Vinil ao ipod, a espera não foi longa, mas é suficiente para ter muitas saudades das longas e animadas sessões de bailes de garagem, soirées dançantes, tardes de discoteca e noites ébrias de boémia, sempre ao som da eternizada música do vinil dos anos 70 e 80.Saudades atenuadas nesta noite em que o Casino de Chaves tirou alguns anos e quilos do peso cinquentão de muitos presentes. A sessão começou com os deliciosos “milhos com fumeiro” como couvert às 9 da noite e terminou com alguns litros de água às 3 horas da manhã. O resto da ementa poderia ter recorrido mais à variedade transmontana, e assim o Chef de cozinha teria evitado o excesso de carne de porco e de sal. Retirando esta pequena contrariedade, tudo foi perfeito para ajudar ao rejuvenescimento dos “cotas” que voltaram a ser “teenagers” durante algumas horas. Foram momentos em que até as carecas se recobriram de cabelos, o grisalho recoloriu-se, as rugas alisaram-se, os discos das vértebras foram todos ao sítio, as bengalas foram todas postas de lado, o corpo agilizou-se e tolerou um copinho a mais e o espírito agradeceu.
Espera-se que a aliança entre as músicas e os seus fãs continue em mais sessões idênticas, que perdure e ajude à intemporalidade de uma época que marcou indelevelmente várias gerações. (assim seja, àmen)
José Manuel Carvalho
sábado, julho 16
Manuel Maria Carrilho
"O milagre era vivido com tal fervor que o que parecia tentador era prometer ir ainda "mais além", ignorando-se completamente que o objectivo fundamental do Memorando (da Troika) era, sobretudo, o de garantir o reembolso em perigo de empréstimos concedidos, confiscando para o efeito a energia, os bens e as ilusões ainda disponíveis no País. Talvez por isso, ninguém explicou como é que, afundando Portugal na recessão, a "estratégia" do memorando permitiria diminuir o défice e viabilizar o regresso aos mercados em 2012 e 2013. E quanto ao crescimento... nem uma palavra!". Mais no DN.
sexta-feira, julho 15
Crua constatação
A catadupa de números apresentada pelo novo ministro para justificar o corte no subsídio de natal leva-nos à crua constatação de um facto: um país pobre que não vive acima das suas possibilidades - "65 por cento dos agregados familiares, estão excluídos do pagamento do imposto. E cerca de 80 por cento dos pensionistas – o equivalente a 1,4 milhões – estão excluídos do pagamento da sobretaxa de IRS"(Público)
quinta-feira, julho 14
Cartas de Vidago - Quando for grande não quero ser…
Quando for grande não quero ser como ninguém desta gente com quem agora lido e no entanto me faz crescer. São eles que vão fazer de mim o que eu não quero ser. Ainda não sei o que quero ser, mas sei que não quero ser como eles. Eles tratam-me bem, dão-me prendas, fazem-me festas e são simpáticos comigo. Ensinam-me coisas sem se aperceberem e eu aprendo-as sem querer umas e por querer outras. Mas mesmo assim não quero ser o que eles são. Gente de bem, gente de mal. Uns polidos e engravatados, outros decrépitos e nauseabundos. Todos bem-intencionados mas todos com algo que eu não quero ser: defeitos do ser humano que uns têm sem querer, que outros gostam de evidenciar e que eu gostaria de eliminar.
Quando for grande quero ser eu.
José M. Carvalho
Quando for grande quero ser eu.
José M. Carvalho
segunda-feira, julho 11
quinta-feira, julho 7
José Gomes Ferreira
José Gomes Ferreira tem sido o jornalista económico mais sólido, perspicaz e acutilante. Nos últimos anos, tem alertado, de uma forma clara e com uma angústia que já não consegue esconder, para o irracionalismo e o perigo das opções tomadas pelos nossos governantes. Merecia que o ouvissem mais.
segunda-feira, julho 4
888 páginas magistrais
A leitura racista da história, vista à luz de um darwinismo social:
«A política não é mais do que a luta de um povo pela sua existência.», afirmou Hitler: «O mais fraco cai para que o forte possa viver.» Os valores que determinavam o destino de um povo eram três: «sangue» ou «valor racial», o «valor da personalidade» e o «espírito combativo», ou «ímpeto da conservação da própria vida». estes valores, incorporados na «raça ariana», eram ameaçados pelos três «vícios» - democracia, pacifismo e internacionalismo - que constituíam o trabalho do «marxismo judeu».
Optimismo absurdo:
«Munique, Bremen, Dusseldorf contavam-se entre as cidades que foram alvo de uma destruição em grande escala. Hitler disse que ficou satisfeito por o seu apartamento em Berlim ter ficado danificado; não lhe teria agradado que tivesse sido poupado - obviamente, não teria parecido muito bem - quando o resto da cidade tinha sido atacado. Pensava que o bombardeamento pudesse ter um efeito salutar, despertando a população de Munique para as realidades da guerra. Os bombardeamentos aéreos tinham outro aspecto positivo, disse a Goebbels a meio de Agosto: poupou-nos o trabalho ao destruir edifícios que, em qualquer dos casos, teriam de ser demolidos a fim de se proceder à implementação do novo plano de urbanização da cidade depois da guerra.»
Determinação de uma psique mórbida:
«Nós não capitularemos. Nunca. Podemos perder. Mas levaremos o mundo connosco.» Hitler, 1945.
E muito mais nas quase 900 páginas de uma excelente biografia.
sábado, julho 2
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