sábado, fevereiro 6
República Dominicana. O abalo que durou 31 anos (1930-1961).
TRUJILLO, EL JEFE, O LADRÃO DE GADO FALHADO E O CARA DE CU.
Um mulato corpulento, sádico, e com olhos de porco, que branqueava a pele, usava sapatos de cunha e tinha um especial carinho pelas miudezas da era napoleónica.
«Na tarde da festa, quando Abelard estava lugubremente, a tratar do automóvel, viu a filha, de vestido, de pé, na sala, debruçada sobre um dos seus livros franceses, parecendo absolutamente divina, absolutamente juvenil, e, naquele momento, ele teve uma daquelas epifanias das que nós, os grandes da literatura, somos sempre obrigados a falar. A coisa não lhe surgiu numa explosão de luz, ou através de uma nova cor, ou de uma sensação no coração. Percebeu, apenas. Percebeu que não poderia fazer. Disse à esposa para esquecer a festa. Disse o mesmo à filha. Ignorou os seus protestos horrorizados. Saltou para dentro do carro, apanhou o Marcus, e seguiu para a festa.
E a Jacqueyn?, perguntou o Marcus
Ela não vem.
O Marcus abanou a cabeça. Não voltou a falar.
Na fila da recepção, o Trujillo voltou a parar diante do Abelard. Aspirou o ar, como um gato. E a sua esposa e a sua filha?
O Abelard a tremer, mas, de qualquer modo, a conseguir conter-se. Já a sentir como tudo iria mudar. As minhas desculpas, Vossa Excelência. Elas não puderam comparecer.
Os olhos porcinos dele estreitaram-se. Compreendo, disse, friamente, e, a seguir, dispensou Abelard com um gesto do pulso.
Menos de quatro semanas após a festa, o Dr. Abelard Luis Cabral foi preso pela Polícia Secreta. A acusação? «Difamação e calúnia grosseira contra a Pessoa do Presidente.»
(in A Breve e assombrosa vida de Oscar Wao, de Junot Díaz)
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