segunda-feira, maio 1

Cícero, por Robert Harris


«A sua (Molon) teoria  da Oratória era simples: não andar demasiado, manter a cabeça erguida, não se afastar do tema, fazê-los chorar, fazê-los rir e, uma vez conquistada a simpatia deles, sentar-se calmamente. - Nada seca com mais rapidez do que uma lágrima - dizia. Esta teoria estava mais de acordo com a maneira de ser de Cícero.»

«Devo falar-vos um pouco de Ático, cuja importância na vida de Cícero iria tornar-se extremamente importante. Já rico, recebera recentemente a herança de um tio, Quinto Cecílio, um dos mais detestados e misantropo prestamista de Roma: uma casa excelente no Quirinal e vinte milhões de sestércios em dinheiro; o facto de Ático ser a única pessoa que manteve relações razoáveis com aquele velho repulsivo até que ele morreu é bem revelador do carácter de Ático. Poderia haver quem visse ali oportunismo, mas acontecia que Ático, fiel aos seus princípios filosóficos, tinha por norma não se zangar com quem quer que fosse. Era um devoto seguidor dos ensinamentos de Epicuro («O prazer é o princípio e o fim da vida feliz»), embora convenha que se diga que não era um epicurista no sentida mais corrente, não procurava a luxúria, mas no sentimento mais verdadeiro, um seguidor a que os gregos chamam ataraxia, ou seja, a ausência de perturbação. Por conseguinte, evitava discussões e atitudes desagradáveis, aspirava apenas a tomar parte em discussões filosóficas com os seus amigos, de dia ou de noite. Achava que toda a humanidade devia perseguir objectivos semelhantes e sentia-se confundido por tal não acontecer. Era propenso a esquecer, como Cícero lhe recordava uma vez por outra, que nem toda a gente herdara um fortuna.»
Robert Harris, Imperium

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