quinta-feira, maio 19

"Estamos todos de parabéns"

Foto do dia, Jornal Público

Nunca como agora, cá e lá, os treinadores ocuparam tanta atenção de jornalistas, adeptos, amantes do futebol. Quando ganham ou perdem discute-se até à exaustão a sagacidade dos esquemas, o rigor táctico, a disciplina imposta, a oportunidade das alterações na equipa. Há, porque ganharam um protagonismo inusitado, câmaras de tv dirigidas ao técnico no intuito de compreender melhor os sinais de uma linguagem corporal cada vez mais expressiva. Eles sabem e cultivam esse estatuto: vestem-se para isso, interpretam o papel com o rigor de um actor shakespeariano, enaltecem o valor da equipa de que são responsáveis, desvalorizam o individual – o jogador. À noite, e todas as noites, serão o alvo de análises meticulosas pelos jornalistas especializados, comentadores avalizados, simpatizantes de linguagem colorida, que reforçarão o papel do treinador no sucesso da equipa. Amarrados a tácticas, preocupados com o discurso do líder, pressionados por objectivos e contratos, os jogadores de futebol passaram a trabalhadores de futebol por conta de outrem. As exibições são enfadonhas, mas, sinais dos tempos, ficam felizes somente porque ganham ou quando derrotados orgulhosos com a atitude demonstrada em campo. Estamos todos de parabéns, dizem.

2 comentários:

  1. Análise bem feita a essas figuras que não passam de intermediários de alienações exacerbadas e idolatrias irracionais alimentadas muitas vezes por ridículos pormenores e por executantes a quem se dá excessivo destaque.

    José Carvalho

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  2. Facto indesmentível: estamos a nível de treinadores e jogadores de futebol, em alta. Não será talvez excessivo destaque, mas antes falta de hábito...
    Precisamos de alargar este protagonismo a outras áreas!

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