«Antes da inauguração, há cem anos, o pequeno rei ficara alojado no quarto, exactamente aquele, diante do lago, as portas abertas para uma pequena varanda. Cem anos antes, o pessoal alinhado e engomado e bem vestido na escadaria aguardava o desfile de carros e carruagens que subia a estrada de terra vinda da colina de vinhas e oliveiras - estava previsto que, cem anos depois, à medida que os convidados abandonassem o hotel, despedindo-se, deixando atrás de si o grande casarão cor-de-rosa, o toldo às riscas, os candeeiros de ferro forjado, os torreões laterais, sob a luz tardia de um domingo de Novembro, cada carro daria duas voltas inteiras em redor do lago e seria aplaudido pelos criados e pessoal do hotel: general manager, o gerente, dois administradores, camareiras, porteiros, recepcionistas, escriturários, contabilistas, criados de mesa, um escanção, dois bagageiros, um dos cozinheiros, o director do campo de golfe, dois jardineiros, a chefe de lavandaria, até um médico, o médico privativo do hotel. Treinaram os aplausos durante uma semana, mediram o compasso, calcularam o tempo que cada carro levaria para completar duas voltas ao lago. O pequeno rei subiu esta escadaria, ouviu os aplausos cem anos antes sob o rugido dos trovões, o vento atravessando a floresta, o primeiro frio do ano, que lhe seria fatal.»
Francisco José Viegas, O Mar em Casblanca, Porto Editora
O 1º post tinha que ser sobre Vidago... No comments... Um abraço, Paulo
ResponderEliminarUm blog literário de um artista plástico
ResponderEliminarNas exposições de pintura ou escultura, os visitantes perseguem as obras com o seu olhar admirador ou avaliador segundo os seus conhecimentos ou sensibilidade estética. Tal acto poderá demorar apenas alguns segundos. As paredes e jardins de muitos espaços, poderão ficar mais aprazíveis se forem recheados com essas obras. A sua criação leva tempo e exige imaginação e talento, mas depois de realizada ali está para ser observada num ápice, num olhar. Quando a arte se manifesta não através da pintura ou escultura, mas através da escrita, não se pode expor para ser admirada num ápice, e dificilmente os recortes de bocados de papel aumentariam a beleza arquitectónica ou visual de um espaço. É necessário mais tempo para decifrar e sorver os seus contornos e a maleabilidade de um código que tem a sua beleza e deslumbra, mesmo sendo apenas expresso a preto e branco em pequenos salpicos codificados que bem combinados e pincelados nos sítios certos, deliciam e enchem não só o olhar mas a mente e a sensibilidade, conseguindo criar não só a imagem de um momento, de uma atitude, de uma cena mas também embrenhar o leitor na situação como se estivesse ali sentado a observá-la ou mesmo a participar nela.
Este blog é talvez a prova de que o universo da arte não é estanque e compartimentado em sectores. Entre duas manifestações de arte completamente díspares, a plástica e a literária, encontramos um elo comum que confere ao seu autor a capacidade de desvendar numa e noutra o que lá existe de belo.
José Carvalho
Chaves
COMO FAMILIAR (AFASTADA) DO MESTRE E ARQUITECTO VICENTE COSTA, GOSTARIA DE SABER ALGO MAIS SOBRE AS SUAS OBRAS SE FOR POSSÍVEL.
ResponderEliminarPELO QUE NOS FOI TRANSMITIDO, FEZ A FAMOSA ESCADARIA DO TAMBÉM FAMOSO HOTEL PALACE VIDAGO, ALGO NA ADEGA DE FAUSTINO E BARRAGENS EM CHAVES VIDAGO, NÃO TEMOS MAIS NENHUMA REFERENCIA SOBRE AS SUAS ARQUITECTURAS , TEMOS APENAS UMA FOTO MUITO ANTIGA CEDIDA POR FAMILIARES JÁ FALECIDOS.
SEM OUTRO ASSUNTO SUBSCREVO-ME ATENCIOSAMENTE E OBRIGADA.
CLEMENTINA DUQUE, ESPOSA DO NETO DO MESTRE E ARQUITECTO VICENTE COSTA