sábado, fevereiro 19

“Sintomas ou sinais de melancolia amorosa” 1621, Robert Burton

Quentin Metsis, Mulher grotesca, 1525

O amor é cego, diz o provérbio, Cúpido é cego e cegos são todos os seus seguidores. Quem se apaixona por uma rã julga que é Diana.
O apaixonado tem uma admiração entranhada pela amada, embora ela seja a fealdade em pessoa, sem qualquer dote natural, murcha, furuncolosa, branca, pálida como cera, com um carão chato e redondo como o de um palhaço ou, então, chupado, ressequido e diminuto como o rosto de uma criança, manchada no corpo, retorcida, toda pele e ossos, pelada, com olhos arregalados, remelentos, com o olhar de um gato apertado contra a porta, de cabeça baixa, pesada e grave, com olheiras encovadas, estrábica, (… ) nariz chato, esborrachado, dentes ralos e salientes, negros, podres, encavalitados, cheios de tártaro, hálito que empesta o aposento, (…) mãos e braços cobertos de sarna, a pele escura, uma carcaça pútrida, as costas curvas, corcunda, coxa, de pés chatos, malcheirosos, um ninho de piolhos, um ser informe, um monstro, uma piada da natureza, pele com um cheiro a acre, voz esganiçada, gestos desajeitados, postura vulgar, (…) galdéria desmazelada, porcalhona, intratável, sem gosto nenhum, fedorenta, animalesca, puta do acaso, obscena, grosseira, ignorante, linguaruda.
(…)
Se ele se apaixona por ela, prosta-se a admirá-la para sempre.
História do Feio, Umberto Eco, Difel. P.173

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