segunda-feira, agosto 19

Recordações de um europeu


É absolutamente imperioso ler este livro. Pela qualidade literária (que gozo); pela oportunidade dos temas, nesta época de ressurgimento dos nacionalismos e o retrocesso civilizacional de uma desagregação do projecto europeu; pela descrição que faz de muitos intelectuais que privaram com ele...
Brilhante. A reler.

quinta-feira, maio 16

Para quem gosta de Agustina, O Poço e a Estrada

Uma biografia a partir das obras, correspondência, entrevistas na imprensa ....
Os livros preferidos de Isabel Rio Novo. Um Cão Que Sonha, Embaixada a Calígula, Fanny Owen, Homens e Mulheres, Ronda da Noite.

segunda-feira, março 11

Faial, Pico e São Jorge, pelos olhos de Vitorino Nemésio. Magnífico


«Margarida curvou-se sobre a cruz, e ali abriu e dispôs as suas despedidas de verão. Depois, persignando-se, ficou um momento recolhida. Um melro voou do muro do cemitério e foi esconder no galho de uma árvore o seu assobio dobrado, um destes módulos que, em coro crescente, enchem de torpor e de sonho as madrugadas das ilhas. Depois sentiu-se uma grande chilreada, o frémito de várias asas, e uma nuvenzinha de melros, precedida do par que guerreava, perdeu-se para os lados do pico.»
Mau Tempo no Canal, Vitorino Nemésio

terça-feira, janeiro 22

A Síbila, de Agustina Bessa Luís


Um livro que me tinha impressionado há muitos anos e que, na altura, exigi a mim mesmo uma nova leitura. Trinta anos depois, uma opinião definitiva: não conheço melhor. Denso, inteligente, brilhante!

«Quina espiava-o, sem, porém, deixar que ele a surpreendesse. E tomava-a uma secreta alegria, ao sentir de novo a familiaridade de todos aqueles objectos, os ancinhos, as velhas foices desdentadas no vão escavado da parede mestra, a lareira com a pequena cafeteira que fervia e cujo silvo era o acompanhamento adequado ao ronronar dos gatos. Por uma frinchazinha da pálpebra, advertia a atitude amuada e puerilmente orgulhosa daquele homem cuja estreita fronte se franzia num esforço tocante de se mostrar penalizado por uma ofensa. E ela ria-se intimamente; e as lágrimas afogavam-lhe o riso, e as suas mãos tremiam ao tocarem a tampa da cafeteira que oscilava ao ferver. O grande luar e a atmosfera toda azul viam-se da janela de grandes abauladas; os cães ladravam aos rumores da noite, e sonoramente a água caía de alto sobre o tanque, desenhando círculos que eram como rugas de vidro.Quina estendia os seus pequenos pés, os calcanhares poisados nas chinelas; o lenço, puxado sobre a boca, dava-lhe um ar misterioso e quase jovem.»
A Síbila, Agustina Bessa Luís