sexta-feira, fevereiro 16

Brilhante Yuval Noah Harari


Voraz e profundamente inquietante. Página a página, um livro que nos provoca uma vontade irresistível de partilhar tanta e tão diversa informação. Será este livro um produto da Inteligência Artificial?

«1. Será que os organismos vivos são apenas algoritmos e a vida não é mais do que processamento de dados?
2. O que tem mais valor, a inteligência ou a consciência?
3. O que acontecerá à sociedade, à política e à vida quotidiana quando os algoritmos não conscientes mas de inteligência superior nos conhecerem melhor do que a nós próprios?»
Homo Deus, Yuval Noah Harari

segunda-feira, fevereiro 5

O gordo gato preto


Durante meses a fio, na hora de dormir, um pequeno livro, a História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar, foi o preferido das minhas filhas. Não sei quantas vezes contei esta história do chileno Luis Sepúlveda. A repetição, noite após noite, levava-me a redesenhar partes do conto, a dar uma dimensão diferente a certas personagens, a abreviar certas passagens. Mas nunca consegui alterar, sem a imediata correção e um pequeno ralhete, as etapas fundamentais da promessa do gordo gato preto, Zorbas. Quando a gaivota finalmente voava e a luz se apagava, a Inês, a mais nova, pedia-me para ficar um pouco mais. Deitava-me transversalmente aos pés dela e esperava que adormecesse. Escutava, imóvel, quase em apneia, que a respiração suavíssima se tornasse profunda, que o corpo se soltasse. Por vezes, quando em movimentos muito lentos antecipava a saída, a Inês intersectava-me com um pedido sussurrado: pai …. E eu voltava à posição inicial. Imóvel de novo. Naquela quietude, aprendi a interpretar todos os sinais vindos daqueles corpos. No silêncio, a transportar-me para um plano paralelo ao da realidade quotidiana.
Vinte anos depois, na sua casa, voltei a ficar ao lado dela à espera que adormecesse e recuperasse a energia que a faz voar tão bem. Imóvel, com os sons da cidade esquecidos, escutei durante muito tempo os mesmos sinais.