domingo, outubro 16

Ronda das mil belas em frol, Mário de Carvalho



Qualquer livro Mário de Carvalho obriga-me a ter o dicionário ao pé. Já estava à espera: um vocabulário alargado e rico, uma grande atenção à escrita. Mas ler esta coleção de contos eróticos, a roçar o vulgar e de gosto duvidoso, interrompidos amiúde pelo Priberam, e compará-los com as descrições ritmadas, licenciosas e onomatopaicas de Reinaldo Moraes que li recentemente, transformou a narrativa de Mário de Carvalho, Ronda das mil belas em frol, em algo decepcionante.

«Na hora da verdade, a experimentada, ávida e estrondosa Antonieta não queria outra coisa. Algo ela me ensinou. Regia os tempos. Escusava pressas, mas, inesperada, também precipitava delongas. Ditava e mandava, disfarçando o todo em lânguida doçura.
Cabeça revolta a dar a dar, um ofego em crescendo, com torção do corpo e arranque abismal, bradado na surpresa dum rompante ao modo popular, exigindo mais alguma coisa ou asseverando que alguma coisa estava para acontecer. Vocabulário cru, em barda. Expressões que não me eram lembradas desde a pornografia adolescente.»

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