"Todos aqueles anos em que estive ausente, os meus amigos viveram-nos numa completa euforia: a revolução realizara-se! O comunismo caiu! Todos estavam confiantes em que tudo se comporia, porque na Rússia havia muitas pessoas instruídas. Era um país rico. Mas o México também é um país rico... Não se compra a democracia com petróleo e gás, nem se pode importar, como as bananas ou os chocolates suíços. Nem se proclama por um decreto do Presidente... São necessárias pessoas livres, e não as havia. E continua a não haver. Na Europa há duzentos anos que cuidam da democracia como quem cuida da relva. Em casa, a minha mãe chorava: «Tu dizes que Estaline era mau, mas com eles nós vencemos. E tu queres trair a pátria.» Um velho amigo meu veio visitar-nos. Bebemos chá na cozinha: «O que vai acontecer? Nada de bom acontecerá, enquanto não fuzilarmos todos os comunas.» Mais sangue? Alguns dias depois entreguei os documentos para sair do país..."
O Fim do Homem Soviético, Svetlana Aleksievitch
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