segunda-feira, junho 15

Ti Elias Mão-de-Ferro, personagem fabulosa da Terra Chã.



«Lá em cima, as mulheres gritaram, através das janelas, sem saber já se o faziam em proteção de uns ou de outros.
No momento em que espreitou pelo postigo, com a espingarda na mão, o rapaz percebeu que o pai se encontrava já em cima de um cavalo, com as mãos atadas atrás das costas e a corda à volta da cabeça, três dos homens de capuz segurando o animal e invectivando-o com insultos e ameaças. E, ao vê-lo, gritou, ergueu a arma, muito atabalhoado, e disparou numa direcção indefinida.
O cavalo foi o primeiro a reagir, erguendo as patas da frente e partindo a galope quinta acima. Os encapuzados desataram a correr, muito atarantados, como se disso dependessem as suas próprias vidas. Álvaro Augusto Silveira-Goulart, esse, ficou pendurado pelo pescoço, a sacudir-se num estertor, e depois apenas a balançar-se ao sabor do vento e da gravidade, já inerte, com um estranho sorriso na boca.
Elias puxou uma fumaça do seu cigarro grosseiro, agora já reduzido a uma ponta apenas. Bateu a cinza no cinzeiro.
- Um desses homens era João de Brito Carreiro, empregado da casa.
José Artur cruzou os braços, num tom de desafio.
- Outro era o Ti Elias.
O velho fitou-o de volta. Fez um gesto com a cabeça.
- E o outro era o teu avô José Guilherme.»
 Arquipélago, Joel Neto

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