quinta-feira, agosto 28

Para Martin Amis, o grande romance da literatura americana. É verdade, não vale a pena procurar mais.


"O corpo de Stella, com o cheiro morno de mulher, estava coberto de água, começando a partir de uma linha tranquila acima dos seios. ... Sentei-me com o roupão pendurado no ombro e senti-me extremamente em paz. ... Eu sentia-me instalado e descontraído, o meu peito livre e os meus dedos abertos e confortáveis. E é aí que está a coisa. É preciso um momento como este para percebermos como o nosso coração anda angustiado e, além disso, todo aquele tempo em que pensávamos estar a vaguear ociosamente, estava a ser realizado um trabalho duríssimo. Sem nos apercebermos, estávamos a esforçar-nos duramente, cavando e escavando, abrindo minas e túneis, levantando, empurrando e carregando pedras, trabalhando, trabalhando, trabalhando, trabalhando, arfando, transportando, içando. E nada disto pode ser visto do lado de fora. É tudo feito internamente. Isto acontece porque nos sentimos impotentes e incapazes de obter justiça ou resposta, e, então, dentro de nós, trabalhamos, guerreamos e combatemos, ajustamos contas, recordamos insultos, brigamos, reagimos, negamos, palramos, denunciamos, triunfamos, enganamos, superamos, vingamo-nos, choramos, persistimos, absolvemos, morremos, ressuscitamos. E fazemos isto tudo sozinhos! Onde é que está toda a gente? Dentro do nosso peito e da nossa pele, o elenco inteiro."

Saul Bellow, As Aventuras de Augie March, Quetzal

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