… “Talvez tenha feito isso ou talvez não; alguma coisa fez,
isso é certo – mas quem é capaz de distinguir o que é do que não é quando
confrontado com semelhante mestra da falsidade? As cenas patéticas que ela
improvisava! A pura hipérbole de tudo o que imaginava! O poder de autossugestão
dos embustes que urdia! A convicção com que desenhava aquelas caricaturas!
Não vale a pena fingir que não contribuí para lhe alimentar
o talento. Aquela que a princípio não terá passado de uma mentalidade mendaz e
provinciana, tentada pela possibilidade de caçar uma boa presa, transformou-se,
não pela fraqueza mas pela força da minha resistência, numa coisa maravilhosa e
demencial, numa imaginação lunática e inebriante que – pondo de parte tudo o
resto – reduzia ao ridículo absoluto as minhas convencionais conceções
universitárias de verosimilhança na ficção e todas aquelas elegantes fórmulas
jamesianas que tinha interiorizado sobre proporção, vias indiretas e tato.
Levou tempo e custou sangue, e a verdade é que só quando comecei a escrever O Complexo de Portnoy consegui deitar cá
para fora alguma coisa que se parecesse com o talento para a ousadia
estonteante que ela tinha. Não há dúvida de que ela foi o meu pior inimigo de
sempre mas, tenho de reconhecer, foi também o mais espantoso de todos os meus
professores de escrita criativa, especialista por excelência em estética de ficção
extremista.
Leitor, casei-me com ela.” Philip Roth, Os FactosNo Público, aqui e aqui
E agora, que Roth disse que não ia escrever mais (será que vai cumprir?), temos de aproveitar esta última pérola que ele nos dá.
ResponderEliminarEra, realmente, uma pena. Este livro é de 1988.
ResponderEliminarPois é! Afinal o livro que ando a ler, Pastoral Americana, é mais recente que Factos. O último livro que escreveu foi Némesis.
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