domingo, maio 29

Liberdade para Giggs

Foto A Bola
Freitas Lobo irrita-me. No futebol nada o surpreende. Antecipa, precipita, explica. Tem soluções para todas as situações de jogo. Seguro do que diz, sugere liberdade para Giggs, um bloco defensivo mais baixo, marcação individual ou à zona. Pede insistentemente para observarmos um jogo feito de linhas, de esquemas táticos e de transições. E eu, mesmo não querendo, tento ver o que ele vê. Em vão.

quinta-feira, maio 19

"Estamos todos de parabéns"

Foto do dia, Jornal Público

Nunca como agora, cá e lá, os treinadores ocuparam tanta atenção de jornalistas, adeptos, amantes do futebol. Quando ganham ou perdem discute-se até à exaustão a sagacidade dos esquemas, o rigor táctico, a disciplina imposta, a oportunidade das alterações na equipa. Há, porque ganharam um protagonismo inusitado, câmaras de tv dirigidas ao técnico no intuito de compreender melhor os sinais de uma linguagem corporal cada vez mais expressiva. Eles sabem e cultivam esse estatuto: vestem-se para isso, interpretam o papel com o rigor de um actor shakespeariano, enaltecem o valor da equipa de que são responsáveis, desvalorizam o individual – o jogador. À noite, e todas as noites, serão o alvo de análises meticulosas pelos jornalistas especializados, comentadores avalizados, simpatizantes de linguagem colorida, que reforçarão o papel do treinador no sucesso da equipa. Amarrados a tácticas, preocupados com o discurso do líder, pressionados por objectivos e contratos, os jogadores de futebol passaram a trabalhadores de futebol por conta de outrem. As exibições são enfadonhas, mas, sinais dos tempos, ficam felizes somente porque ganham ou quando derrotados orgulhosos com a atitude demonstrada em campo. Estamos todos de parabéns, dizem.

segunda-feira, maio 16

Cartas de Vidago, VADE RETRO SATANA

Fotografia da C.M. Montalegre

A região de Montalegre e Barroso aparenta um aspecto agreste e inóspito. A parte real desta aparência afugentou muitos autóctones e exigiu aos que por lá ficaram grande esforço e criatividade para poderem sobreviver em tão adversas condições. Estas terras, em vez de terem sido abençoadas por Deus, parece terem sido amaldiçoadas pelo Diabo. No entanto, todas as sextas-feiras coincidentes com o dia treze, o Diabo que tão mal quis a estas terras acaba por ser o que lhes dá a vida e a razão de existir, num quiproquó em que o feitiço se vira contra o feiticeiro. E aquela terra aparentemente repulsiva cobre-se de corpos e almas a fazê-la prosperar. A passada sexta-feira, dia 13 de Maio, foi mais um desses dias, desta vez a concorrer com o Dia de Nossa Senhora Fátima e das aparições. Controvérsias e coincidências que poderão ter deixado alguns peregrinos hesitantes.
Maldições, diabos, diabretes, teias, morcegos, mochos, caldeirões, bruxas, olharapos e um sem fim de adereços agoirentos, associados a sons, cheiros, cores, sombras e penumbras são os ingredientes para a criação de um ambiente em que o misticismo, a festa, a diversão e o espectáculo se aliam para proporcionar uma envolvência original a que milhares de visitantes não têm resistido, aumentando de ano para ano. Restaurantes e alojamentos ficam lotados com meses de antecedência e, nos dias já há muito marcados pelo calendário, todos os caminhos vão dar a Montalegre numa peregrinação que já vai cheirando a promessa: “na próxima cá estarei”. Não é preciso vir a pé ou de joelhos porque o Diabo não contempla esses sacrifícios, embora os aprecie. E tanto os aprecia que já tem lançado o feitiço não só em Barroso como por todo o país e a nível global, obrigando-nos brevemente a andar a pé, de joelhos, de rastos e a pedir. Este Diabo tem andado por aí disfarçado de Santo fazendo alianças traiçoeiras com a Humanidade. E esta, por inépcia ou por conveniência tem-se deixado comprar e hipnotizar a poder de chorudas ofertas e presentes envenenados. Temo que contra este já seja tarde demais para fazer festas e esconjuros. É urgente proferir a fórmula “VADE RETRO” a este Satanás e agir em conformidade.

José M. A. Carvalho

sexta-feira, maio 13

Sem freio nem escrúpulos

Isaac Soyer: The Employment Agency, 1937

Falta medo a este capitalismo desregulado e sem escrúpulos. Medo provocado por algo que realmente ameace o único sistema económico vigente. No século passado, esse temor, representado pela esfera soviética e pela presença expressiva dos partidos comunistas nos países ocidentais, fez com que os operários europeus, estruturados por regimes democráticos e economias liberais, fossem de automóvel para as fábricas, confiantes num Estado providência tutelar. As propostas socialistas de transformação revolucionária da sociedade surgiram no século XIX em consequência da exploração capitalista selvagem. A sua aplicação foi desastrosa, mas proporcionou a outros um bem-estar assente nos valores primordiais do homem – liberdade e igualdade, que, pensávamos nós, eram pilares sólidos da nossa civilização.
Assistiremos passivamente a este retrocesso civilizacional?  De que cor serão as bandeiras a desfraldar?

terça-feira, maio 3

Árvores de Vidago

"Devemos ser como as árvores – ter raízes na terra mas do alto das copas olhar o mundo à volta."
                                                                                                    Georges Santayana


domingo, maio 1

5800 euros

Por terras durienses a caminho da capital e com um sorriso bem rasgado, ouvia na TSF o programa Governo Sombra,  de Carlos Vaz Marques, Ricardo Araújo Pereira, Pedro Mexia e João Miguel Tavares. Nesta semana, abordaram,  com a inteligência e ironia conhecidas, os pavões na política portuguesa. Os pavões eram os habituais, mas um  foi alvo da chacota dos ministros sombra. Também eu, incrédulo, ouvia o senhor Leite Campos explicar como é difícil viver com uns meros 5800 euros.

;