domingo, fevereiro 27

Indomáveis

Aos poucos regresso ao cinema. Estranho a solenidade que dedico a este ritual. O som é óptimo, a tela e o espaço para as pernas são enormes. Fazem-me recordar as exíguas salas do saudoso Quarteto. A escolha recaiu no Western dos irmãos Coen, Indomável. O início, o enforcamento de três “bandidos”, marca definitivamente todo o filme – a importância dada à palavra. As paisagens frias e belíssimas são pano de fundo para três fascinantes contadores de histórias, Jeff Bridges, Matt Damon, Hailee Steinfeld. Gostei? Ganhará algum Óscar? Talvez, não sei. Sei que a minha atenção se dispersou por jovens irrequietos, aparecidos sei lá de onde, que devoraram freneticamente baldes de pipocas e sorveram litros de cola. Saudoso Quarteto.

quinta-feira, fevereiro 24

(como me custa colocar Jesus neste grupo)


Nos nossos canais televisivos há sempre tempo para analisar e debater todo o futebol nacional e internacional. As horas disponibilizadas ao desporto rei permitem-nos saber tudo: do pequeno-almoço do hotel em véspera de jogo ao estado de espírito dos adeptos, das lesões aos sistemas táticos mais rebuscados. A importância dos programas mede-se pelo vocabulário hermético dos comentadores e pelos decibéis da indignação dos convidados dos clubes. Uns e outros, áugures atentos, pressagiam o futuro das equipas e de cada jogador da pátria lusa. Dos nossos em terras de outros, não vêem o menor defeito, invocando um dever superior de todos nós – o patriotismo. Argumento pobre. Estranho que tantos, e tão conhecedores, não questionem as prestações medíocres do Real Madrid e dos seus expoentes máximos – José Mourinho e Cristiano Ronaldo. O primeiro parece perdido na procura obsessiva de bater novos recordes. Cristiano, enredado em simulações, tiques e protestos, trava repetidamente uma equipa refém de uma única ideia – ganhar.
Ao futebol dos grandes clubes, porque têm possibilidades infinitas, exige-se qualidade e só poderão tê-la se forem espetaculares. Não é por isso que queremos ver o futebol de Guardiola, Wenger, Jesus? (como me custa colocar Jesus neste grupo), treinadores que acreditam que jogar bem é o ponto de partida para ganhar.

sábado, fevereiro 19

“Sintomas ou sinais de melancolia amorosa” 1621, Robert Burton

Quentin Metsis, Mulher grotesca, 1525

O amor é cego, diz o provérbio, Cúpido é cego e cegos são todos os seus seguidores. Quem se apaixona por uma rã julga que é Diana.
O apaixonado tem uma admiração entranhada pela amada, embora ela seja a fealdade em pessoa, sem qualquer dote natural, murcha, furuncolosa, branca, pálida como cera, com um carão chato e redondo como o de um palhaço ou, então, chupado, ressequido e diminuto como o rosto de uma criança, manchada no corpo, retorcida, toda pele e ossos, pelada, com olhos arregalados, remelentos, com o olhar de um gato apertado contra a porta, de cabeça baixa, pesada e grave, com olheiras encovadas, estrábica, (… ) nariz chato, esborrachado, dentes ralos e salientes, negros, podres, encavalitados, cheios de tártaro, hálito que empesta o aposento, (…) mãos e braços cobertos de sarna, a pele escura, uma carcaça pútrida, as costas curvas, corcunda, coxa, de pés chatos, malcheirosos, um ninho de piolhos, um ser informe, um monstro, uma piada da natureza, pele com um cheiro a acre, voz esganiçada, gestos desajeitados, postura vulgar, (…) galdéria desmazelada, porcalhona, intratável, sem gosto nenhum, fedorenta, animalesca, puta do acaso, obscena, grosseira, ignorante, linguaruda.
(…)
Se ele se apaixona por ela, prosta-se a admirá-la para sempre.
História do Feio, Umberto Eco, Difel. P.173

quinta-feira, fevereiro 17

Manifestações

Fotografia, Jornal Público
Neste período conturbado do mundo árabe, é interessante reparar nos cartazes das manifestações e na ausência de representação figurativa, com a excepção de algumas fotografias de mártires ou de líderes religiosos. Ao contrário do mundo ocidental de influência cristã, que sempre apoiou as imagens figurativas como veículo privilegiado de comunicação, a arte muçulmana sempre viu com relutância este tipo de representação. Em sua substituição a palavra e a caligrafia ganham uma dimensão iconográfica de grande beleza.

terça-feira, fevereiro 15

Five of the best European golf resorts

Vidago Palace

"The original nine-hole course was designed by Mackenzie Ross in 1936 and profits from a forest of mature trees. These holes have been remodelled by course designer Cameron & Powell to create six longer holes, and 12 new holes added. The variety of challenges, cheeky deep bunkers and a mid-fairway pigeon coop amongst them, will keep the interest of all levels of golfer, with the back tees giving a course length of more than 6,300 metres."
Condé Nast Traveller

domingo, fevereiro 13

My Choice, Casa das Histórias

“Escolhi apenas aquilo de que gostei”, Paula Rego
O critério usado e o estatuto de que goza fazem com que a escolha não surpreenda. De uma maneira ou de outra, a selecção de obras do acervo do British Council tem uma grande afinidade com toda a sua obra: o pendor narrativo, a tensão, a expressividade. É notório que a escolha tenha recaído em trabalhos que privilegiam o desenho. O desenho como mãe de todas as artes. O desenho como processo de entendimento, como recurso para “ tornar visível o que raramente pode ser visto”.
Regressarei à Casa das Histórias de Paula Rego.

terça-feira, fevereiro 8

Adão e Eva


Saint-Antonin, casa privada dos Granolhet
Adão e Eva, século XII. Nenhum outro período tratou com tanta liberdade e com tanta vitalidade a figura humana. Com o Cristianismo, as imagens despojam-se da relação naturalista e racional da plástica clássica. Perde-se o sentido de volume e de perspectiva, pois convertem-se em símbolo e seguem uma orientação exclusivamente espiritualista. Numa europa iletrada, os artistas procuram, sobretudo, e sem limites formais, clareza narrativa.

quarta-feira, fevereiro 2

O erro de Mourinho

Foi um erro transformar Cristiano Ronaldo num deus. Desde que chegou a Madrid, Mourinho não se cansa de cantar loas ao número sete. Cristiano, vigoroso, veloz, correspondia com golos e mais golos acompanhados de exibições da equipa merengue cada vez mais sofridas. Com um jogo medíocre, Mourinho repete incessantemente as virtudes de Ronaldo. A equipa prostra-se, canalizando todo o jogo para o salvador, tornando-se assim presa fácil e, sobretudo, previsível. Um erro.

terça-feira, fevereiro 1

Perfídia

O tempo não apagou esta música que fugia aos cânones da minha juventude. Só a ouvíamos nas discotecas e não resistíamos em dançá-la. Aqui, numa bela versão, com um toque de jazz, de Ibrahim Ferrer.